

DESTAK INTERNACIONAL, Sexta-feira, 12 de Dezembro de 2014
A VC FUTSAL veio hoje até ao Dragão Asiático, ao maior país da Ásia Oriental e o mais populoso do mundo, com mais de 1,36 biliões de habitantes, quase um quinto da população da Terra, estamos pois na República Popular da China.
Perguntarão os nossos leitores, o que procuramos nós num local tão distante, pois bem, o nosso entrevistado é formado em educação física, tem pós-graduação em Ciências do Desporto e é Técnico de Futsal com um palmarés invejável de clubes e títulos conquistados, falamos de ADIL AMARANTE.
VC - Quando estamos perante um “monstro do futsal” mundial quase me apetecia dizer-lhe que me diga o que bem entender, mas é minha função conduzir esta entrevista e desta forma pergunto-lhe se tendo nascido em Esmeralda se considera uma autêntica pedra preciosa?
AA - Pedra preciosa é realmente minha cidade natal, que sendo um município com cerca de 3000 mil habitantes já lançou para o mundo grandes profissionais em várias áreas. Eu me considero mais um profissional dedicado, orgulhoso de sua terra natal, que conseguiu ter até ao momento êxito na carreira, apenas isso. No futuro, vamos ver se as coisas continuam assim.
VC – Como foi a infância e adolescência do jovem Adil, e em que altura aparece a prática desportiva e nomeadamente o futsal?
AA - Fiz toda a minha formação escolar até a Universidade, em Esmeralda. Desde cedo já ajudava meu Professor de Educação Física José Edgar Pacheco como monitor nas aulas. Ai também disputei campeonatos locais e regionais de futsal. Mas de uma forma mais séria foi no ano de 1985, já como estudante do curso de Ed. Física da Universidade de Caxias do Sul, que comecei a trabalhar com futsal a convite de um colega chamado Gelson Scola que era jogador da A.A. Bangu, clube que disputava competições no estado do Rio Grande do Sul.
VC – Que papel tiveram os senhores Ruy Ferreira do Amarante e Aldaci Terezinha de Lima Amarante na definição do seu percurso e que relação teve ou ainda tem com eles?
AA - Não só a eles, mas como toda minha família, devo tudo o que sou, na formação do meu carácter. Meus pais foram incansáveis no suporte para minha formação. Tive o privilegio de poder me dedicar unicamente aos estudos sem mais nenhuma preocupação que não fosse essa, devido a muitos sacrifícios que eles fizeram para me proporcionar isso. Graças a eles pela minha formação, consegui alcançar todos esses êxitos até ao momento. Infelizmente, deles guardo gratidão e saudades, pois perdi meu Pai ainda quando estava em Portugal ao serviço do IDJV e minha Mãe, quando estava no Japão ao serviço do Nagoya Oceans.
VC – Como é que se inicia a sua carreira de técnico de futsal?
AA - Como falei anteriormente, no ano de 1985, ingressei na A.A. Bangu , quando ainda era estudante de Ed. Física. Em 1986, ano que conclui o curso, trabalhei na A.A. Malharia Guerra. No ano seguinte já como profissional da área de Ed. Física fui convidado para integrar, penso que seja o primeiro projecto profissional de futsal no Brasil, na A.A. Enxuta. A partir daí construi a carreira que vocês já conhecem.
VC – Atravessar o oceano para vir treinar em outro continente foi a concretização de um desejo ou foi fruto de algum acaso da vida?
AA - Acaso da vida, pois cheguei a Portugal, primeiro pela vontade da família em regressar as origens, segundo para abraçar um projecto na área de natação que é outra das minhas paixões. Ingressei no futsal Português como treinador de Guarda-redes da equipe feminina da AAC de Coimbra, mais pelo bichinho do futsal que eu tinha deixado de lado com essa vinda para Portugal, pois como profissional de futsal na altura era impossível viver. Só que as coisas foram acontecendo e deixaram o monstro aqui se criar, o resto da história, vocês já conhecem.
VC – Fale-nos um pouco dos clubes e das experiências que viveu em Portugal, durante os anos que permaneceu em terras lusitanas?
AA - De certa forma ainda permaneço em terras lusitanas pois minha residência oficial é em Soure, Coimbra. Na AAC de Coimbra foi onde tudo começou de treinador de Gr da equipe feminina a treinador da equipe sénior masculina, foi o Nuno Ponce de Leão que me deu a oportunidade de mostrar o meu trabalho. A partir daí as coisas foram acontecendo, conheci o Miguel Ferreira que era jogador e treinador no Colégio Dr. Luís Pereira da Costa num curso de treinadores em Coimbra, ministrado pelo Prof. Rui Gama que na altura era o treinador no IDJV. Do Miguel, recebi o convite para treinar o Colégio, que era do mesmo grupo que administrava o IDJV, lá fiquei muito pouco tempo, pois cheguei em Janeiro e em Junho já fui chamado para treinar o IDJV, porque o Prof. Rui Gama ia para um projecto com o futebol e ia sair do futsal do IDJV. No IDJV fiquei 3 épocas, onde considero uma das melhores, senão a melhor escola de futsal de Portugal. Ali desde o desporto escolar até o desporto federado tive a oportunidade e o privilégio de conviver com grandes profissionais que acrescentaram e muito na minha formação e continuidade de carreira. Conheci mais de perto o Rui Gama que foi um dos pioneiros no trabalho de futsal em Portugal e uma metodologia de trabalho que ali estava implementada que ajudou muito no meu crescimento profissional. Penso que a nossa troca de experiência, daquilo que eu trazia da escola brasileira e do que o Gama tinha buscado na Espanha, mais o que eles já aplicavam em Portugal, deu uma mistura boa e que formou uma leva de grandes treinadores e jogadores portugueses que hoje são referência no País. Depois do IDJV, veio o SL Benfica, que foi o voltar para o regime profissional e retomar um caminho que não tem volta, pois a partir daí a tua casa passa a ser a cidade ou o País que te escolher para desenvolver algum projecto. No Benfica vivi grandes momentos e 7 títulos, que deixam aquele gostinho de querer voltar a Portugal e num futuro poder contribuir de alguma forma para a continuidade do trabalho que é feito no futsal do País.
VC – Em 2008, surge a oportunidade de rumar às terras do sol nascente, como surgiu esta oportunidade e como foi adaptar-se a tantas diferenças culturais e até gastronómicas?
AA - Participamos de uma Taça Intercontinental com o Benfica em que também estava o Nagoya Oceans. Nessa competição eles me conheceram e no ano seguinte surgiu o contacto, que veio a calhar justamente no período que estava de saída do Benfica. A cada mudança temos sempre o problema de adaptação, mas para mim a mais difícil é a língua, pois interfere directamente no trabalho e trabalhar com intérprete e sempre complicado. Com o resto a gente se vira.
VC – E a China onde está hoje, como surgiu? Gosta do trabalho que está a desenvolver e quais os objectivos que o clube persegue e naturalmente o Adil?
AA - O convite surge na aposta do clube em fazer um bom papel na AFC Futsal Club Championship (Copa da Ásia), maior competição de clubes da Ásia. Como me conheciam na Ásia pelo trabalho realizado no Nagoya Oceans e a conquista dessa competição com o Nagoya Oceans no Qatar, eles acharam que seria a pessoa indicada para atender o que eles pretendiam. Conseguimos entrar entre os 4 melhores da Ásia na primeira participação do clube nessa competição no Japão em 2013. Ficou a semente, saí depois para o AFC Kairat e agora me chamaram para desenvolver um projecto de dois anos com o objectivo de consolidação do futsal no clube e na China e tentar chegar a campeão da Ásia o que seria inédito para o futsal chinês e motivo de muita satisfação para mim. Esse é o nosso caminho e o que vamos em busca.
VC – Do muito que conhece do futsal mundial fale-me um pouco do que pensa da evolução
do futsal português?
AA - Penso que a crise atrapalhou e muito o futsal em Portugal. A extinção de clubes que eram referência do futsal no país não contribuiu em nada nesse desenvolvimento. Isso é o que vejo de longe e como não gosto de opinar sobre aquilo que não tenho um conhecimento mais profundo, prefiro não me alongar muito nessa resposta.
VC – É um homem muito experiente que já trabalhou com muitos jogadores, sabendo que muitos técnicos dizem que todos os jogadores e colegas das equipas técnicas deixaram marcas, cada um à sua maneira, gostava ainda assim que me destacasse um jogador e um elemento das suas equipas técnicas que mais o tenham marcado e o porquê?
AA - Não fez parte de nenhuma equipe técnica comigo, mas me marcou muito no que diz respeito a futsal, pela sua espontaneidade e pela forma que contribuiu na minha formação como profissional, com o seu conhecimento e disponibilidade durante o tempo em que estive no IDJV, foi o meu amigo Prof. Rui Gama. Jogadores, tenho dois nomes, o Ricardinho por ser para mim o melhor do mundo e por aquela busca incessante de sempre dar mais, seja no treino ou no jogo e pela forma como também me cobrava na minha evolução para poder atender sempre as expectativas de sermos sempre melhores a cada dia. As vezes brincava comigo, mister é só isso o treino hoje. No fundo ele sabia que podíamos dar um pouco mais. Foi assim que conseguimos, na minha última época de Nagoya Oceans, vencer as 3 competições invictos e com alguns recordes pessoais e colectivos. O outro é o Pedro Costa, pois via nele o complemento do meu trabalho em campo, o tipo de jogador que faz a leitura daquilo que você pretende e puxa pela equipe para que aquilo seja cumprido. Como o povo costuma dizer é o treinador em campo. Posso até estar enganado, mas ele quando acabar a carreira como jogador será mais um concorrente ai no mercado com muita qualidade. Espero que se cruzar novamente com ele, que seja ao meu lado e não contra.
VC – Pergunto-lhe muito à maneira portuguesa, se é um “bom garfo” e se prefere arroz com feijão, um bacalhau na brasa, sushi ou bolinho de peixe chinês?
AA - Realmente aprecio um bom prato, mas para mim tudo no seu devido lugar. Se estou no Brasil vamos de arroz com feijão, isso se não tiver um bom churrasco gaúcho, com aquela costela soltando do osso. Em Portugal um bacalhau na brasa com batata a murro, mas também pode ser um cozido a portuguesa que não tem problema. Agora sushi só no Japão, pois em outros lados não é a mesma coisa e para quem come pela primeira vez pode ficar decepcionado, portando cada coisa no seu lado que a gente não se complica.
VC – Agradeço-lhe bastante a sua amabilidade por nos ter concedido esta entrevista, desejo-lhe os maiores sucessos profissionais e pessoais e deixo-o à vontade para acrescentar o que achar oportuno para terminar esta entrevista.
AA - Agradecer-lhes a oportunidade por nos colocar mais uma vez em contacto com o nosso Portugal e me colocar a disposição no futuro para aquilo que vocês necessitarem, dentro daquilo que sabemos fazer que é trabalhar com futsal.
Palmarés:
Campeão da Liga do Cazaquistão – AFC Kairat 2013/2014
Campeão da Copa Euro-Ásia Eremenko - AFC Kairat Alamty 2014
Campeão da Copa do Cazaquistão – AFC Kairat Almaty, 2013
Campeão da Copa da China – Shenzhen Nanling Tielang Football Club, 2013
Campeão da Puma Cup – Japan – Nagoya Oceans, 2013
Campeão da F-League – Japan – Nagoya Oceans, 2012/2013
Campeão da Oceans Arena Cup – Japan – Nagoya Oceans, 2012
3º Lugar AFC Futsal Club Championship Kuwait – Nagoya Oceans, 2012
Campeão da F-League – Japan – Nagoya Oceans, 2011/2012
Campeão da Oceans Arena Cup – Japan – Nagoya Oceans, 2011
Campeão da AFC Futsal Club Championship Qatar – Nagoya Oceans, 2011
Campeão da F League – Japan – Nagoya Oceans, 2010/2011
3º Lugar AFC Futsal Club Championship Iran – Nagoya Oceans, 2010
Campeão da F League – Japan – Nagoya Oceans, 2009/2010
Campeão da Oceans Arena Cup – Japan – Nagoya Oceans, 2010
Campeão da F League – Japan – Nagoya Oceans, 2008/2009
Campeão Nacional de Portugal – Sport Lisboa e Benfica, 2007/2008
Campeão da Super Taça de Portugal – Sport Lisboa e Benfica, 2007/2008
Campeão Nacional de Portugal – Sport Lisboa e Benfica, 2006/2007
Campeão da Taça de Portugal – Sport Lisboa e Benfica, 2006/2007
4º Lugar na Taça Intercontinental – Sport Lisboa e Benfica, 2006/2007
Vice-Campeão da Recopa da Europa – Sport Lisboa e Benfica, 2006/2007
Campeão da Super Taça de Portugal – Sport Lisboa e Benfica, 2006/2007
4º Lugar na Taça Intercontinental – Sport Lisboa e Benfica, 2004/2005
Campeão Nacional de Portugal – Sport Lisboa e Benfica, 2004/2005
Campeão da Taça de Portugal – Sport Lisboa e Benfica, 2004/2005
Tricampeão Distrital A.F. Leiria – Portugal – Juniores – Instituto D. João V, 2003/2004
Bicampeão Distrital A.F. Leiria - Portugal – Juvenil/Juniores – Instituto D. João V, 2001/2003
Bicampeão da Taça A.F. Leiria - Portugal – Juvenil/Juniores – Instituto D. João V, 2001/2003
Campeão da Taça A.F. Coimbra – Portugal - Senior Feminino – A.A. Coimbra/OAF, 1999/2000
Bicampeão Distrital A.F. Coimbra – Portugal - Senior Feminino – A.A. Coimbra/OAF, 1999/2000
Campeão da Taça A.F. Coimbra – Portugal - Juvenil/Juniores – A.A. Coimbra/OAF, 1999/2000
Campeão Distrital A.F. Coimbra – Portugal - Senior Feminino – A.A. Coimbra/OAF, 1998/1999
Campeão de Caxias do Sul/RS – Brasil – Vasco da Gama F.C, 1991
Campeão do JIRGS/RS – Brasil – Seleção Caxiense de Futsal, 1990
Campeão de Caxias do Sul/RS – Brasil – Vasco da Gama F.C, 1990
Campeão de Masters do Rio Grande do Sul – Brasil – A.A. Distinta, 1989
Campeão de Bento Gonçalves/RS – Brasil – A.A. Distinta, 1989.
Campeão Brasileiro – Brasil – A.A. Enxuta, 1988
Campeão de Caxias do Sul/RS – Brasil – A.A. Enxuta, 1987
Campeão da I Copa A.A.Banco do Brasil de Futsal Mirim – Brasil – A.A.Enxuta, 1987
Campeão da II Copa Enxuta de Futsal Mirim – Brasil – A.A. Enxuta. 1987
Paulo Rosa editor da VC Futsal

