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DESTAK INTERNACIONAL, sexta-feira, 5 de Junho de 2015

 

Viemos hoje bem longe, o nosso destino é o Emirado do Dubai, localizado na costa do Golfo Pérsico, sendo um dos sete emirados que compõem o país. Dubai é o emirado mais populoso entre os sete emirados, com aproximadamente 2 262 000 habitantes. Viemos ao encontro de um treinador de sucesso por estas paragens, tem 30 anos, é natural de Vizela e falamos de Rui Daniel Machado Guimarães, conhecido no meio do futsal, por Rui Guimarães.

 

VC – Desde já agradecemos a tua pronta disponibilidade para esta entrevista e para iniciar pergunto-te se tiveste percurso desportivo como jogador ?

 

RG - Jogava futebol, nos juniores do Futebol Clube de Vizela e quando terminei o meu percurso de formação surgiram alguns convites de clubes de divisões inferiores, que recusei. Nesse ano, nas férias, o Daniel Pedrosa (na altura Coordenador da formação da Fundação Jorge Antunes) convidou-me para diretor do escalão de juniores da Fundação, cargo que aceitei. Nos dias seguintes, os iniciados iniciavam os treinos, e como na altura estavam sem treinador pediram-me para treinar a equipa, até que encontrassem um treinador, algo que não aconteceu, e assim iniciei o meu percurso como treinador.

 

VC – Rui em que altura da tua vida surge o interesse pela vertente do treino?

 

RG - O interesse pela vertente do treino sempre existiu na minha vida, pois já quando jogava nos Iniciados do FC Vizela, treinava os "Escolinhas", sendo que sempre me imaginei como um treinador, embora sem nunca aspirar a treinar equipas seniores, pois a formação sempre foi uma paixão.

 

VC - Fundação, um clube histórico e que perdeu o seu espaço entre os grandes nacionais, naturalmente serás mais um dos saudosos, da presença deste clube ao mais alto nível?

 

RG - Seguramente, pois foi um clube que ajudou bastante no crescimento do futsal em Portugal e foi sempre um clube com equipas competitivas, que lutavam sempre pelos lugares cimeiros. Acredito e faço votos, de que reativem a equipa sénior futuramente e parabenizo o clube pelo excelente trabalho que continua a realizar no futsal de formação.

 

VC - Falando do teu percurso, a dada altura sais do país, foste à procura de oportunidades ou o futsal de cá, na altura, era pequeno para as tuas ambições?

 

RG - Fui à procura de oportunidades e de novas culturas. Em Portugal existem muitos treinadores competentes, mas não é com frequência, que vemos os clubes a apostar em treinadores "mais jovens". Os exemplos mais recentes, foram o Fundão e o Benfica (com Joel Rocha), que têm realizado um grande trabalho e é só mais um exemplo, de que a qualidade não tem idade.

 

VC - Com passagens por Suíça, Itália, Roménia, Grécia e República Checa, fala-nos um pouco destes projetos .

 

RG - São todos projetos que me ajudaram a crescer como treinador e que me deram a oportunidade de trabalhar como profissional da modalidade. O projeto mais marcante, foi seguramente o FC Balticflora (Rep. Checa), onde conseguimos formar um plantel de grande qualidade e em que lutamos até aos últimos momentos por todos os títulos internos do país, batendo-nos frente ao Era Pack, que venceu os últimos 11 campeonatos do país.

 

VC - Este conhecimento de tantas realidades, leva-me a perguntar-te, em que patamar está o futsal português no contexto da Europa?

 

RG - Esta num patamar altíssimo, sendo que na minha opinião só o campeonato da Espanha e Rússia, se encontram neste momento num patamar acima do nosso. Em Portugal, com todas as limitações económicas, os clubes continuam a ser competitivos e penso que temos dos melhores treinadores do mundo.

 

VC - A dada altura dás o salto para o país onde tens desenvolvido a tua carreira nos últimos anos, em que circunstâncias se deu a tua ida para o Dubai?

 

RG - Quando estava a disputar a Final da Liga Checa, surgiu o convite dos Emirados, que prontamente aceitei. Na primeira época trenei o Al Hamriya, um pequeno clube do país, em que realizamos uma época de muita qualidade e no ano seguinte transferi-me para o Al Wasl, onde tive a oportunidade de treinar a melhor equipa do país e onde conquistamos em 2 épocas, 5 títulos. No final da temporada anterior, por questões financeiros o Al Wasl, terminou com a Secção de Futsal e surgiu o convite do Al Ahli, onde me encontro actualmente. Um clube extremamente organizado, com condições, de a médio prazo poder lutar pela conquista do Campeonato dos Emirados. Nas últimas semanas acertei a renovação para mais uma época com o clube.

 

VC - Quais foram as maiores dificuldades que encontraste? Fala-nos da cultura, gastronomia e até as questões religiosas, naturalmente muito diferentes.

 

RG - Antes de viajar para os Emirados tive o cuidado de me informar sobre a realidade do país e quando cá cheguei, não me deparei com muitas dificuldades. Em termos de gastronomia as refeições acontecem sempre num restaurante Europeu e em termos religiosos temos que seguir os seus horários e se por exemplo, a hora da reza coincidir com o horário do treino, devemos interromper o treino e reiniciá-lo após os atletas terminarem de rezar. O maior "choque" foi o clima, mas é algo ao que atualmente já me encontro adaptado. Em termos de comunicação quase todos falam inglês, língua que domino.

 

VC - Como saberás em Portugal, as exigências de formação de treinadores, são uma realidade, no teu caso, como se dá o teu crescimento a nível técnico, existem esse tipo de preocupações no Dubai?

 

RG - No Dubai, aliás, na Ásia, é frequente realizarem cursos organizados pela FIFA ou AFC (Confederação de Futebol Asiática), sendo que ainda, em Janeiro deste ano, estive no curso realizado pela FIFA. Em Junho de 2014, estive também em Madrid, a acompanhar 10 dias de trabalho do Inter Movistar.

 

VC - Num país onde reconhecidamente há muito dinheiro, qual era a excentricidade que gostarias de ver concretizada em termos de jogadores para a equipa que representas?

 

RG - Reconhecidamente existe muito dinheiro, mas existe a grande limitação de a Federação até ao momento, não permitir a utilização de jogadores estrangeiros, somente locais. No dia em que abrirem as inscrições para estrangeiros, penso que não se irá falar de excentricidades, mas de uma nova realidade, pois os clubes seguramente tentarão contratar alguns dos melhores jogadores a nível mundial e penso que serão realizadas ofertas irrecusáveis a esses jogadores. O atleta que mais destaco, é sem dúvidas o Ricardinho, um amigo que tenho no futsal e que em Julho de 2014, tive a oportunidade de treinar no NAS Tournament, no Dubai, sendo que esta época terei o privilégio de voltar a ser o seu treinador, na mesma competição.

 

VC - Pergunto-te em jeito um pouco provocatório, se já haverá lugar para o Rui Guimarães no futsal português e que projeto te poderia trazer de novo de volta ao país?

 

RG - Tenho que assumidamente reconhecer, que o meu nome apesar de ser conhecido no Futsal Português, é o nome de alguém que só treinou equipas de formação no nosso país e como tal é normal que os clubes pensem em nomes mais consagrados. Mas também, honestamente, o meu regresso a Portugal será quase impossível a curto/médio prazo, pelo facto de que me sinto muitíssimo respeitado no país em que me encontro e até por questões financeiras, o meu regresso a Portugal afigura-se como algo pouco motivador. Neste momento, nenhum projeto me levaria a Portugal, mesmo tratando-se de um clube dos "grandes".

 

VC - Para terminarmos, desejamos-te os maiores sucessos desportivos e desafio-te a deixares umas palavras a quem segue a nossa publicação online

 

RG - Desde já agradeço a oportunidade desta entrevista, endereço também à VC Futsal os maiores êxitos no seu trabalho, pela divulgação da modalidade. A quem segue a publicação, e quem trabalhe na modalidade, deixo essencialmente uma mensagem de agradecimento a todos aqueles que trabalham de forma gratuita, pois esses são para mim os maiores obreiros da evolução que a nossa modalidade tem sentido.

 

 

Paulo Rosa editor VC Futsal

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