

DESTAK INTERNACIONAL, 13 de Março de 2015
Fazemos hoje mais uma viagem a paragens distantes e frias, viemos à Rússia ao encontro de Nuno Alexandre Moreira Vieira, conhecido no futsal por “Côco”. Apresentando um pouco mais o nosso entrevistado, joga a ala, tem 33 anos, 1,66 m., 64 Kg de peso, é natural de Massarelos – Porto e já representou a nossa seleção nas camadas jovens.
VC – Agradeço-te desde já teres concedido esta oportunidade e para iniciarmos a nossa conversa, pergunto-te de onde nasceu a alcunha pela qual és conhecido por todos no mundo do futsal?
Côco - Eu é que agradeço pelo interesse. Por volta dos meus 12 anos, lembrei-me de rapar o cabelo e quando "apareci em público", um primo meu, lembrou-se de dizer que eu parecia um côco e ficou desde aí até hoje.
VC – Conta-nos como foi a tua convivência com o desporto ao longo da tua formação, o que praticaste e por onde te formaste?
Côco - Comecei por jogar futebol de 11 no Boavista e depois futsal. Cheguei a jogar os dois em simultâneo, mas na altura, deixou de ser permitido e tive de optar por um e o futsal falou mais alto. Fiz formação na União Desportiva e Cultural da Sé, até aos 15 anos, depois tive o convite para ir para o Miramar onde joguei até ser sénior.
VC – Sei que tens um irmão que também joga futsal, como foi a reacção dos vossos pais ao longo do vosso crescimento com tanto jogadores em casa? Sentias que havia apoio por parte deles para as vossas opções?
Côco - Desde que eu era pequeno, a minha mãe nunca gostou da ideia de eu passar o dia na rua a jogar à bola. Quando comecei a jogar mais a sério, era complicado pois ela não me deixava faltar à igreja, para ir aos jogos ao domingo de manhã, por exemplo. Por outro lado, o meu pai sempre me incentivou e contrariava as ordens da minha mãe e assim ia conseguido contornar a situação. Com o meu irmão, como era mais novo, já foi tudo diferente, foram muito mais liberais.
VC – Jogas na Fundação Jorge Antunes durante três épocas, que projeto foi este e pergunto-te se contribuiu para a afirmação em definitivo do Côco?
Côco - Quando sai do Miramar, fui para a Fundação J. Antunes e estive lá três anos e meio. Fui contratado pelo Benfica, onde fiquei seis meses e voltei para a Fundação onde joguei mais duas épocas. Quando fui a primeira vez para a Fundação eu acho que ainda era uma promessa, no ano anterior, havia sido considerado o jogador revelação do campeonato. Posso dizer que o presidente José Antunes, apostou em mim e tenho que lhe agradecer por isso. Na altura era uma equipa em crescimento, que investiu muito no futsal para poder ganhar títulos, mas infelizmente ou por falta de sorte ou por "forças maiores" nunca conseguiram. Da minha parte posso dizer, que foi ali que me afirmei, onde aprendi muito do que sei hoje.
VC – Aos 24 anos chegas a um clube dito grande, o Benfica, com colegas de altíssimo nível e com um treinador que fez um excelente trabalho por lá, como foi essa época, e como foi jogar com Ricardinho e seres treinado por Adil Amarante?
Côco - Esse ano, foi um ano negro para o Benfica, pois não ganhou nada. Ser treinado pelo mister Adil foi muito bom, aprendi bastante, principalmente a nível defensivo. Foi muito gratificante para mim ir para o Benfica, pois tive possibilidade de conhecer grandes jogadores e jogar com o Ricardinho é sempre um grande prazer, apesar de não ser ainda o Ricardinho que é hoje.
VC – Falou-se na altura da tua saída do Benfica de alguns problemas disciplinares, queres falar um pouco sobre isso ?
Côco - Como toda a gente sabe eu sempre fui convidado para jogar muitas maratonas e torneios. Na altura que eu estava no Benfica fui convidado para o torneio de Grijó e como sempre aceitei. Quando estava prestes a jogar recebi um telefonema do director do Benfica a dizer que não podia jogar, mas como já me tinha comprometido joguei na mesma. Como consequência fui mandado embora do Benfica por justa causa. Se foi mesmo por isto ou se quiseram arranjar um pretexto? Não sei...
VC – Depois do Benfica voltas à Fundação, foi um passo atrás na tua carreira ou foi um período de amadurecimento?
Côco- Posso dizer que voltei à casa que sempre me tratou bem. Se foi um passo atrás ou não, ninguém pode saber. Se gostava de continuar no Benfica? Gostava. Mas voltar à Fundação também foi bom, acredito que tudo acontece por uma razão.
VC- Nas épocas seguintes conheces variados projetos, Alpendurada, Belenenses, Modicus e Freixieiro, todos projetos diferentes e também concerteza nos objetivos, fala-nos resumidamente deste percurso de 4 anos e o porquê de quatro clubes neste período?
Côco - Quanto ao porquê das escolhas destes clubes, posso dizer que foram na altura as melhores propostas e condições que me ofereceram. No Alpendurada, Freixieiro e Modicus o objectivo era comum, ir aos play-offs. No Belenenses foi diferente, o objectivo era ser campeão e quase que conseguimos, foi uma grande época que apesar de não conseguirmos atingir o objectivo máximo, conseguimos ganhar uma taça de Portugal.
VC – E a tua passagem pela seleção nacional, como são estas experiências para um jogador?
Côco - Apenas tive o prazer de representar a nossa seleção nas camadas jovens. A última convocatória, foi pelos sub-23, no Fundão. Apesar de nunca me terem dado a oportunidade na seleção principal, tenho a certeza que o sentimento de alegria e orgulho é o mesmo.
VC – Tens referências no futsal ao nível de colegas de profissão e de técnicos? Terás concerteza, queres partilhar connosco?
Côco - A nível de jogadores posso dizer que não tenho como referência nenhum jogador em particular, já gostei de uns e agora gosto de outros. Posso dizer que neste momento há três jogadores que me dão imenso prazer ver jogar, o Ricardinho do Interviu, o Diego do Barcelona e o Léo Santana do Siberiak. Quanto aos treinadores, para mim o treinador com mais potencial português, é o Paulo Tavares, mas o treinador que me senti mais confiante a jogar e que acreditou mais em mim, foi o José Vasconcelos.
VC – Desde 2012 que abraçaste um novo projeto fora do país, juntamente com outros jogadores portugueses, que clube é este, que objetivos tem e como é jogar numa das melhores ligas do mundo, a liga Russa?
Côco - Para terem uma ideia, antes dos portugueses chegarem a esta equipa, havia épocas que faziam um ponto. A aposta nos portugueses, foi com vista nos play-offs (que mesmo assim acho que não acreditavam muito). Na 1ª época, eu, o Tiago Brito e o André Gomes conseguimos ficar em 7º, o que deixou todos em êxtase. No ano seguinte, o Tiago saiu e contrataram mais um jogador espanhol, que infelizmente esteve lesionado a maior parte da época, mas, mesmo só com dois estrangeiros, conseguimos de novo o objectivo, pois ficamos em 8º lugar. O que nunca ninguém imaginou, é que íamos ganhar ao 1º lugar, ao todo poderoso Dínamo de Moscovo e acabamos em 4º lugar no campeonato. Neste momento a fasquia está mais alta, pois acreditam que a equipa é capaz de fazer mais e melhor. Esta época apesar do nosso começo no campeonato menos bom, estamos a conseguir recuperar terreno e neste momento estamos nos lugares de play-off e estamos nas meias-finais da taça da Rússia.
VC – Se te pedisse para resumires em poucas palavras o que é a liga portuguesa de futsal e a liga russa, como as definirias?
Côco - São duas ligas completamente diferentes, enquanto em Portugal se joga um jogo mais pensado e técnico, aqui na Rússia é muito mais físico e rápido. Mesmo os jogos na Rússia, são 50 minutos, enquanto que em Portugal são de 40 minutos.
VC – Para terminar lanço-te o desafio de nos deixares uma mensagem para os nossos leitores da VC FUTSAL .
Côco - Gostaria de pedir para continuarem a acreditar e a apostar no futsal.
VC – Muito obrigado pela tua disponibilidade e votos de muitos sucessos.
Paulo Rosa editor VC Futsal

