

DESTAK INTERNACIONAL, sexta, 12 de Junho de 2015
Mais uma viagem neste mundo globalizado, Qatar é hoje o destino, um país árabe, conhecido oficialmente como um emirado do Oriente Médio, ocupando a pequena Península do Qatar na costa nordeste da Península Arábica. É nosso entrevistado, Luis Miguel Ribeiro, tem 29 de idade, natural de Lisboa e é treinador neste país.
VC – Antes de mais quero agradecer-te a amabilidade de nos receberes e pergunto-te para iniciarmos, como foi a infância e adolescência do jovem Luis, e em que altura aparece a prática desportiva e nomeadamente o futsal?
LR - Comecei a jogar futsal com 6 anos, no Coruchéus, em Alvalade, desde sempre fui um apaixonado pela modalidade. Aos 13 anos, mudei-me para Odivelas e tive dois anos sem jogar federado, praticava a modalidade apenas com amigos, pois o meu pai queria que me dedicasse mais à escola, então até aos meus 15 anos não me autorizou a jogar. Um dia, uns amigos desafiaram-me a ir treinar com eles aos Pombais, e o treinador da altura, gostou e convidou-me a ficar, nessa época lembro-me que a nossa equipa terminou em segundo no campeonato, só atrás do Sporting, com uma diferença reduzida de pontos, penso que 5, se não estou em erro. Até aos meus 17 anos fiquei nos Pombais, mas no meu último ano de júnior, recebo um convite, para ir para os Bons Dias, que aceitei e em boa hora o fiz, pois deu-me a oportunidade de realizar um bom campeonato, ser visto, e no fim da época recebo um convite para ir jogar nos séniores do Grupo Desportivo do Castelo.
VC – Chegas a sénior, que clubes representaste?
LR - Quando subi a sénior fui para o G.D. do Castelo, jogar a segunda divisão nacional, foi uma época difícil, em que acabamos por descer na última jornada, ao perdermos com o Moinho da Juventude a 3 minutos do fim, mas apesar disso foi uma época em que aprendi bastante. No ano seguinte, mudei-me para o AMSAC, que tinha acabado de descer da primeira divisão, essa foi provavelmente a época mais difícil para mim, pois joguei pouco, mas também, foi a época que mais me fez crescer enquanto jogador. No ano seguinte, volto para o Castelo na terceira divisão e faço uma ótima época, tanto a nível individual como coletivo, terminamos o campeonato em terceiro, atrás do Olivais e do Sines. No ano seguinte, houve o convite do mister David Sousa e do mister Imran e mudo-me para o Odivelas, e no final da época, somos recompensados com a subida à primeira divisão e o título de campeão de série. No ano seguinte continuo no Odivelas, mas as coisas não correram tão bem como no ano anterior, pois estivemos 7 meses e meio sem receber salário, e acabaríamos por descer de divisão. Na época seguinte volto para o AMSAC, e posso dizer que foi o matar de um "borrego" pois voltei a um sítio onde não tinha praticamente jogado e nessa época não só fiz a época completa, como foi a minha melhor época, como guarda-redes e volto a ser campeão de série e volto a jogar na primeira divisão. Depois na primeira divisão, terminamos em 9º lugar e no final dessa época, passados uns meses recebo o convite do mister Imran para viajar para o Qatar.
VC – Luís, em que altura vês que a tua vida, podia passar pela carreira de treinador, quando e em que circunstâncias?
LR - Eu comecei a dar treinos de guarda-redes, quando eu ainda era júnior e o primeiro guarda-redes que treinei, foi o Hélder Fernandes, que atualmente joga nos Leões de Porto salvo, nessa altura nunca me passaria pela cabeça, que me iria iniciar na carreira de treinador tão jovem. A oportunidade para passar a ser treinador a tempo inteiro, surgiu através de um convite do mister Imran Cunha, que na altura se encontrava a trabalhar no Qatar Club, então não pensei duas vezes e aceitei o convite.
VC – Qatar, um país tão distante e diferente, como foi a adaptação ao país, língua, cultura, gastronomia e religião?
LR - Contrariamente ao que muita gente possa pensar, a adaptação foi fácil, mas a isso também se deveu muito a ajuda do mister Imran, que já cá estava. A língua, na altura foi complicado, hoje em dia já falo o suficiente para me conseguir fazer entender nos treinos e já compreendo também muita coisa. A gastronomia foi fácil até porque muita da comida deles é grelhada, então fica fácil de comer, e eles também comem quase o mesmo que nós tirando a carne de porco. Quanto à religião, é a base de tudo aqui, para se ter um exemplo, no meio dos treinos se for hora de rezar, os jogadores param de treinar e vão todos rezar.
VC - Fala-nos dos anos desportivos que tens vivido ai e quais os objetivos já cumpridos?
LR - Já levo quatro anos de clube, e os objetivos são modestos, por norma terminar no 6º lugar, é isto que nos pedem. Quanto a objetivos pessoais, já atingi alguns, que eram colocar guarda-redes treinados por mim na seleção, e eu próprio poder um dia chegar à seleção e isso graças a Deus aconteceu.
VC - Em relação ao que melhor conhecias que era o futsal português, quais são as grandes diferenças e caraterísticas do fusal Qatari e qual o feed back do público qatari à modalidade?
LR - A diferença entre Portugal e o Qatar é muito grande, o futsal aqui é praticado há 9 anos. E a grande lacuna, é a falta de formação que os jogadores têm, esse é um grande entrave, mas a chegada de melhores treinadores tem ajudado a evoluir o nível do futsal, aqui no Qatar. O feedback é pouco, até porque é uma modalidade recente, tal como disse, então ainda se vê pouca gente nos jogos.
VC - Como sabes em Portugal, as exigências de formação de treinadores são uma realidade, onde vão beber o "sumo da atualização de competências técnicas" por essas paragens?
LR - Eu particularmente, procuro aprender muito com os treinadores que por cá passam, como Rogério Mancini, Miki, agora mais recentemente com o Paulo Fernandes, é claro que o mister Imran que foi com quem mais aprendi, e aprendo. Para além de estar sempre por iniciativa própria a estudar e a tentar absorver conhecimentos de variados desportos que me ajudam a elaborar os meus treinos.
VC - Falaste há pouco da seleção qatari, qual é o teu papel e objetivos presentes da mesma?
LR – Eu sou um pouco como freelancer na seleção, pois não trabalho a tempo inteiro para eles. Hoje iniciaram-se os trabalhos com a seleção sub-20 e os meus objetivos são ajudar a evolução dos guarda-redes e se possível qualificarmo-nos para a Taça da Ásia em 2017.
VC - Apesar de distante tens acompanhado concerteza o que se passa por cá, o que achaste da excelente réplica que o Sporting deu a uma super equipa como a do Barcelona e da prestação da nossa seleção na qualificação para o Europeu?
LR - Achei que o Sporting esteve muito bem, bateu-se bem com o Barcelona, uma equipa recheada de estrelas e que a este nível, ter esses jogadores de calibre pode fazer a diferença é foi o que aconteceu no lance do último golo. Mas apesar da derrota, nada apaga a excelente prestação da equipa do Sporting.
VC - Depois dos anos que passaste fora, pensas haver espaço no futsal português para ti ou a capacidade financeira dos países dos emirados é um forte entrave ao regresso?
LR - Sinceramente nunca pensei muito se haveria ou não espaço para mim. Mas para ser profissional em Portugal, só seria possível em dois clubes, e de momento eles estão bem servidos. Quanto à questão financeira, claro que tem um peso importante na minha decisão de querer continuar fora de Portugal.
VC - O que esperas da vida e do futsal em particular, daqui a dez anos?
LR - Daqui a dez anos, gostaria de estar a trabalhar numa liga como a russa ou a espanhola, é isso que espero atingir um dia. Resta-me continuar a trabalhar e esperar que uma oportunidade dessas apareça.
VC - Conta-nos uma história curiosa da tua carreira e se for essa a tua vontade podes deixar alguns agradecimentos que aches oportunos
LR - Tive uma história engraçada aqui no primeiro treino, aconteceu no balneário, quando me despi por completo, para trocar de roupa e me disseram que não podia andar nu em frente a outros homens pois era pecado.
VC - Lanço-te o desafio, de deixares umas palavras de incentivo aos jovens da modalidade.
LR - Primeiro digo que continuem a estudar pois viver do futsal não é fácil e nem todos vão chegar a profissionais e segundo que desfrutem do jogo que tenham prazer a jogá-lo, pois só assim irão evoluir, pois quando se faz as coisas com prazer aprendemos e crescemos muito mais depressa.
VC – Agora sim estamos a terminar, se quiseres acrescentar algo à entrevista dispõe.
LR – Quero agradecer à VC Futsal por esta oportunidade, agradecer ao mister Imran, pois se não fosse ele, a primeira pessoa acreditar em mim, hoje não estaria a trabalhar aqui, gostaria de agradecer ao Nelson Coelho, pois foi uma grande inspiração para mim, e por ultimo queria agradecer à minha namorada Diana, por sempre me incentivar a seguir o meu sonho e por juntamente comigo aguentar toda esta distância.
Paulo Rosa editor VC Futsal

