

DESTAK INTERNACIONAL, sexta-feira, 20 de Março de 2015
VC Futsal vem uma vez mais a paragens distantes, desta vez até Guangzhou, na República Popular da China, procuramos uma das referências maiores do futsal português, primeiro como jogador e atualmente como treinador neste país, falamos de José André Soares Lima, nascido a 10 de Maio de 1971, conhecido apenas como André Lima no meio do futsal.
VC – André, obrigado por teres acedido ao nosso convite e começo por perguntar-te se desde muito novo tinhas a noção da forma como o futsal ia traçar a tua vida?
AL - O prazer ė todo meu. Sinceramente não tinha essa noção, comecei muito novo a jogar futebol e como muitos outros miúdos na altura, o meu sonho era ser jogador de futebol.
Joguei futebol até aos 24 anos, e foi nessa altura que surgiu a oportunidade de começar a jogar futsal.
VC – Onde e em que condições se deu a formação do André Lima como jogador de futsal?
AL - O futsal surge por convite de um amigo, que me levou a fazer uns treinos, no juventude do Miramar, nessa altura era a equipa satélite do Miramar futsal. Como tive a sorte, de encontrar bons treinadores e jogadores, ficou mais fácil e rápida a minha adaptação ao futsal. No ano seguinte dei o salto para a equipa principal do Miramar.
VC – Miramar, um clube com história, que projeto era este à altura e como contribuiu para a tua aparição em definitivo?
AL - O Miramar foi criado pelo saudoso José Manuel Leite, foi um projeto reconhecido por todos, ainda hoje podemos agradecer a este projeto, o salto qualitativo que toda a modalidade teve. O contributo que este clube deu na minha carreira, foi grande em todos os níveis, não só a mim, mas se alguns jogadores hoje, podem viver só do futsal, devem em parte, a este projeto. Foi uma honra e um orgulho fazer parte da história deste Miramar.
VC – Tens uma saída para Espanha, como surgiu este novo projeto na tua carreira?
AL - A minha ida para Espanha, aconteceu de uma forma natural, o convite do Caja Segóvia, surgiu depois de alguns jogos contra espanhóis pela seleção e pelo Miramar. Na altura o Caja Segóvia, era a melhor equipa espanhola, onde tive o privilégio de ser campeão espanhol. Foi também uma experiência decisiva, para o meu crescimento como jogador de futsal.
VC – Depois de seres campeão, o porquê da tua volta ao Miramar?
AL - O meu regresso a Portugal, deveu-se em boa parte, a razões de secretaria, dado que a minha ida para Espanha, nunca teve o consentimento do Miramar. Depois de muitas conversas, o acordo foi que regressasse ao Miramar.
VC – Antes de ingressares no Benfica, já eras um jogador com títulos conquistados, foi importante chegares ao Benfica com “reconhecimento” e “estatuto”?
AL - Claro que foi muito importante, até porque nesse ano todos os jogadores contratados tinham o seu reconhecimento.
VC – Fala-nos dos anos dourados que viveste no Benfica, dos pontos altos e naturalmente de algumas coisas menos conseguidas?
AL - Foram anos fantásticos. Ao longo dos anos, foi criado um núcleo de jogadores incomparável, uma mística de vitória no balneário, que até hoje, não vi em mais nenhuma equipa. Muitas vitórias, à exceção de um ano, em que alguns jogadores importantes, como Pedro Costa, Arnaldo e Zé Maria, abandonaram o Benfica, para jogarem em Espanha, ano em que estivemos em todas as finais e perdemos todas.
VC – A tua passagem para treinador deu-se de uma forma muito natural, esperavas tanto sucesso e títulos conquistados, de uma forma tão rápida?
AL - Não foi tão natural assim, lembro-me que foi uma surpresa para todos, sobretudo para mim. A direção, achou que era a melhor solução na altura. Foi uma aposta arriscada sem dúvida, mais arriscada para mim, com toda a certeza, pois passar de jogador para treinador num clube como o Benfica não era fácil, no fundo foi uma aposta de confiança da direção, pelas minhas capacidades, à qual honrei com muito orgulho. A verdade, é que foram dois anos de vitórias, onde ganhamos tudo que havia para ganhar em Portugal e na Europa. A forma de ganhar como treinador, não foi rápida nem lenta, foi a continuação da liderança do balneário, com a ajuda dos jogadores e a mística de vitória no clube.
VC – Inevitavelmente quando se fala de André Lima, fala-se também de seleção nacional, conta-nos quais os momentos mais altos que viveste no seio da seleção e qual ou quais as pessoas que destacarias neste trajeto de progresso que o futsal e as seleções têm tido?
AL - Os pontos altos, eram sempre que vestia camisola da seleção, foi com muito orgulho e responsabilidade. Claro que para mim, poder ainda deter o título de melhor marcador de sempre com 107 golos, em 111 internacionalizações é um orgulho e uma satisfação muito grande.
As pessoas que destaco, são o Orlando Duarte e Luís Almeida, grandes responsáveis de todo o crescimento da seleção, em anos que não havia tantas condições, como hoje existe. Mais recentemente, destaco Jorge Bráz, não só pelo trabalho de campo, mas também por todo o trabalho de formação e de renovação que está ser feito juntamente com o seu staff.
VC – Tens muitos objetivos realizados concerteza, mas caberá ainda nesses mesmos sonhos, o André Lima a comandar a seleção nacional de futsal?
AL - Não sou de muitos sonhos. Em relação ao meu trabalho sou bastante realista. Vivo o dia-a-dia, sem pensar muito no futuro a longo prazo. Os meus objetivos passam por ensinar e obter títulos na China, continuar a construir a minha carreira, sempre com base na honestidade e competência.
VC – Estás na China, em que circunstâncias se deu esta viragem enorme na tua carreira e pergunto-te se houve dificuldades de adaptação a uma cultura e gastronomia tão diferentes?
AL - O curriculum que tenho, dá-me a possibilidade de ter alguns convites todos os anos. O convite de ir para a China, surgiu porque havia e há pessoas, que seguiam o meu percurso e assim que souberam que estava livre, fizeram a proposta, ao qual aceitei, pois era um novo desafio. Não foi fácil a adaptação no início, mas a verdade é que já estou aqui há 4 anos e tem sido uma experiência maravilhosa, a todos níveis. Estou completamente adaptado e feliz num país, que a maior parte das pessoas tem uma ideia errada do que verdadeiramente é a China.
VC – Fala-nos um pouco destes anos por cá, os projetos que tens acompanhado e gostaria de saber se na tua opinião, o jogador chinês tem evoluído com a vinda de tantos jogadores estrangeiros, nomeadamente portugueses e brasileiros?
AL - Projetos estão sempre a aparecer, agarro sempre os projetos com que me identifico, como é o caso da seleção chinesa , as escolinhas com o meu nome e o clube que treino atualmente. O jogador chinês tem evoluído, de forma lenta, dado que aqui a formação ainda não é uma realidade, mas já se vê uma luz ao fundo túnel, o que na China é sempre bom sinal. Verdade também que, tanto os jogadores, como treinadores estrangeiros, são importantíssimos para a evolução de todo o futsal chinês.
VC – Quais os objetivos do clube que treinas atualmente no campeonato chinês e os teus em particular?
AL - O meu objetivo neste momento é continuar a ajudar o futsal chinês, nas escolas e no clube.
Este clube está a passar por um projeto de 3 anos, para que lute pelo título. A equipa é jovem, mas muito ambiciosa, com tudo quero construir uma equipa com uma imagem diferente, para isso é preciso mudar a mentalidade chinesa. O que me está a dar muito prazer.
VC – Antes de terminarmos, deixo-te o desafio de deixares umas palavrinhas aos nossos leitores e que nos aconselhes uma iguaria da gastronomia local, para o jantar dos nossos leitores.
AL - Há muita gastronomia na China, aconselho o Hot Pot, o peixe picante , lagosta com queijo e a grande variedade de legumes. Não posso deixar de mencionar o sapo frito, sopa de cobra e a tartaruga com ostras, eu não como, mas há quem diga que é uma iguaria por excelência.
Em relação ao futsal, as minhas palavras são para todos que querem seguir uma carreira na modalidade. Nunca deixem de perseguir os vossos objetivos, nunca deixem de acreditar que é possível fazer e ser aquilo que queremos. Obrigado a todos e boa sorte.
Paulo Rosa editor VC Futsal

