

DESTAK INTERNACIONAL, sexta-feira, 15 de Maio de 2015
VC Futsal faz hoje uma longa viagem até uma nação europeia, uma das três repúblicas bálticas, que limita a norte com a Estónia, a leste com a Rússia, a sudeste com a Bielorrússia, a sul com a Lituânia e a oeste com o mar Báltico, estamos hoje na Letónia.
Perguntarão os nossos leitores quem procuramos nós, nesta terra banhada pelas águas geladas do mar Báltico, o nosso entrevistado tem 35 anos, é natural de Bragança, joga a ala e chama-se Arnaldo Augusto Rodrigues Pereira, conhecido apenas por Arnaldo Pereira nos meandros do futsal.
VC – Quero agradecer-te a forma pronta, como respondeste ao nosso convite para esta entrevista e começo como é habitual por pedir ao entrevistado que faça uma retrospectiva da sua infância e adolescência e como se deu a sua ligação ao desporto e nomeadamente com o futsal?
AP - Eu é que agradeço desde já o vosso convite, é um prazer poder dar esta entrevista. A minha infância e adolescência foi igual à de qualquer outro miúdo, eu era uma criança muito activa e sempre gostei de jogar à bola. Antes de pegar nos livros, para ir para a escola, primeiro tinha que ter a bola debaixo do braço. O meu primeiro contacto com o futsal, foi na escola secundária, mais propriamente com o futebol de 5 do desporto escolar. Aí comecei a dar os primeiros passos como jogador de futsal, depois joguei futsal e futebol no clube desportivo da Mãe d’Água e daí passei para os Pioneiros de Bragança. Aqui já com responsabilidade de jogar a alto nível, porque era um clube da primeira divisão de futsal. E aqui foi o início da minha carreira.
VC – Vamos abordar agora um pouco a tua passagem por clubes como o Instituto e o Freixieiro, que projetos eram estes à altura e de que forma, foram o trampolim para vôos mais altos?
AP - Eram dois clubes muito distintos, um não profissional e o outro totalmente profissional, mas com os mesmos objectivos. Tive a sorte de ter dois técnicos fabulosos que me ajudaram e ensinaram a evoluir muito no futsal, bem como grandes jogadores. Ganhei títulos pelas duas equipas, o que é muito importante para os jogadores e ambas me ajudaram a concretizar os meus sonhos.
VC – Chegas ao Benfica em 2002 e permaneces até 2004, numa primeira fase, fala-nos destes anos e dos títulos conquistados.
AP - Foi o concretizar de um sonho, chegar ao Benfica. Foram anos maravilhosos, com um balneário fantástico, recheado de bons jogadores e de grandes homens que me ajudaram muito na integração e a viver o Benfica. No primeiro ano ganhamos tudo o que havia para ganhar e no segundo ano conseguimos chegar à final de UEFA Cup.
VC – Em 2004, avanças para uma experiência nova em Espanha, foi uma experiência que voltarias a repetir?
AP - Sem sombra de dúvidas que voltaria a repetir. Fui muito bem recebido e aprendi bastante com toda a equipa. É uma liga bastante competitiva e obriga-nos a trabalhar ao máximo todos os dias em todos os jogos.
VC – Voltas novamente ao Benfica entre 2007 e 2012 e vives novamente grandes momentos, ao lado de outros grandes jogadores, o que destacarias deste período?
AP - Destacava o balneário fantástico e unido que tínhamos porque foi isso que nos levou a ter momentos de glória, como por exemplo a conquista da UEFA Cup.
VC – Em que circunstâncias se dá a tua saída do Benfica e te leva novamente a abraçar um novo projecto internacional, na Letónia, onde permaneces ainda hoje?
AP - O facto de ir abraçar um novo e desafiante projecto, uma vez que o futsal na Letónia ainda não estava muito desenvolvido e divulgado. Vim com o objectivo de ajudar a equipa a ir mais longe principalmente em competições internacionais.
VC – Caracteriza um pouco, para quem não conhece e serão muitos, a liga da Letónia e o próprio FK Nikars?
AP - A liga da Letónia teve um crescimento significativo nos últimos 4 anos, a todos os níveis. Em termos de organização, foi criada a Associação de Futsal da Letónia com o objectivo de, brevemente tutelar todo o futsal do país, com total independência da Federação de Futebol.
A cada ano, vão surgindo equipas das regiões mais afastadas de Riga, com boas infra-estruturas e vão aparecendo técnicos e jogadores interessados em desenvolver a modalidade.
Quanto ao jogo de futsal propriamente dito, também evoluiu muito. A vinda de jogadores estrangeiros (portugueses, brasileiros, ucranianos) trouxe mais qualidade, uma vez que, naturalmente, passam a ser referências e os jogadores de cá vão tentando fazer as mesmas coisas.
O FK Nikars é o clube com melhores condições e o que domina o futsal de cá. Desde a vinda do mister Orlando Duarte, o clube ficou muito mais organizado. Não é um clube 100% profissional, pois a maioria dos jogadores trabalha e treina ao final do dia. Mas mesmo assim, conseguimos realizar as tarefas de um clube dito profissional - treinos todos os dias, treinos de ginásio, vídeos de análise. Temos um pavilhão para treinar e outro para jogar, escritório, autocarro. Dentro da realidade da Letónia, o FK Nikars é um clube de topo.
VC – Depois de Portugal, Espanha e Letónia e muito conhecimento de outras realidades, qual é o nível actual do futsal português? O que é que falta para darmos um “salto” ainda maior?
AP - Acho que o nível do futsal português é bastante interessante e isso tem-se notado com a presença constante do Benfica e do Sporting na final four da UEFA Cup. Acho que falta às outras equipas, terem as mesmas condições que as referidas anteriormente, nomeadamente serem profissionais.
VC – Qual o jogador que mais prazer te deu defrontar e qual ou quais os que mais gostaste de ter a jogar ao teu lado?
AP - O que mais gostei de defrontar foi o Falcão, porque é um jogador que fazia e ainda faz coisas do outro mundo.
E o que mais gostei de ter ao meu lado, é o que é neste momento o melhor jogador do mundo e que faz coisas mágicas, o Ricardinho.
VC – Com 188 internacionalizações, serão inúmeros os momentos marcantes que já viveste, serias capaz de partilhar connosco alguns dos melhores momentos que viveste com a nossa selecção?
AP - Foram muitos os momentos, mas há dois que me marcaram mais, o mundial da Guatemala porque foi o meu primeiro mundial e também a primeira medalhe de bronze da seleção.
E também o Europeu da Hungria, porque apesar de não conseguirmos a medalha de ouro, conseguimos a de prata, que a seleção ainda não tinha conseguido.
VC – Arnaldo, o que é que o futuro te reserva? Uma carreira como treinador ou outra qualquer função ligada à modalidade ou se, pelo contrário, tens planos fora do futsal?
AP- Não sei o que o futuro me reserva. Neste momento estou a jogar e vou aproveitar todas as oportunidades que surgirem no futuro, sejam elas em que área forem, mas obviamente que gostaria de continuar ligado à modalidade.
VC – Foste recentemente homenageada com a atribuição do teu nome ao Pavilhão Municipal de Bragança, uma homenagem na nossa opinião mais que justa, o que sente um atleta com uma carreira como a tua, ao ver reconhecido todo o seu trabalho, mérito e esforço?
AP - Não há palavras para descrever esse momento. Agradeço mais uma vez a todos os que fizeram com que isso fosse possível.
VC – Para terminarmos, quero agradecer-te uma vez mais, foi uma honra conduzir esta entrevista e deixo-te o desafio de deixares umas palavras aos nossos leitores da VC Futsal.
AP - A todos os amantes da modalidade e seguidores da VC Futsal, que agarrem todas as oportunidades e que nunca desistam dos seus sonhos.
Paulo Rosa editor VC Futsal

