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DESTAK INTERNACIONAL, sexta, 29 de Maio de 2015

 

Estamos hoje no país do Sol Nascente, país insular da Ásia Oriental, localizado no Oceano Pacífico, estamos pois no Japão. Perguntarão os nossos leitores, quem procuramos nós por estas paragens, o nosso entrevistado de hoje, tem 36 anos, natural da freguesia de São Sebastião da Pedreira em Lisboa, tem 1,60 m. e joga a universal, e chama-se Pedro Alexandre Silva da Costa, ou Pedro Costa, no futsal.

 

VC – Começo por agradecer-te a amabilidade de nos receberes, e perguntava-te para iniciarmos se eras um daqueles rapazes que adoravas chutar as pedras da rua, na tua meninice?

 

PC - Por acaso tenho de confessar, que sempre tive a sorte de ter desde muito cedo bolas para jogar na rua. Os meus pais, sempre fizeram a minha felicidade e a dos meus amigos de infância, pois normalmente era “o dono da bola”. Aliás tenho fotos comigo muito novinho, nas traseiras da casa dos meus pais a jogar.

 

VC – Pedro em que altura se deu e em que circunstâncias o teu contacto com o futebol / futsal e como se desenvolveram os anos da tua formação?

 

PC - Para além das brincadeiras na rua e na escola primária, a bola esteve sempre presente no meu crescimento. O primeiro contacto mais a sério, deu-se quando tinha uns 8 ou 9 anos e fui treinar às escolas do desaparecido Estrela da Amadora. Era bem pequenino, mas lembro-me de não ter gostado de algumas coisas e apercebi-me que não sendo filho ou amigo de algum diretor, seria difícil conseguir um lugar. Ainda assinei e tudo, mas passado um mês disse ao meu pai que já não queria ir mais. O futsal apareceu mesmo por acaso, enquanto jogava à bola com os meus amigos num intervalo na escola secundária da Amadora. Tinha eu os meus 11 ou 12 anos.

 

VC – Quando olhas para trás, encontras pessoas que tenham sido verdadeiramente importantes na formação do jogador Pedro Costa e até na formação do “Homem”?

 

PC - Claro, muitas. Mas tenho de destacar três. Primeiro o Pedro de Jesus Mira, a pessoa que me descobriu para o futsal. Foi ele que me convenceu a começar esta aventura em 1990. Segundo o meu pai, que sempre me acompanhou e me deu os valores certos para quem tem filhos, sempre me incentivou a praticar desporto. Sempre que subia ao céu nunca me deixava deslumbrar, mas também era ele que nunca me deixava cair desamparado e me dava a mão quando mais precisava. Terceiro, o meu professor de desporto, Porfírio Pinto. Para uma formação completa do atleta e do homem, estes três vectores são essenciais: pais, professores e treinadores. Eu tive a sorte de me ter cruzado com pessoas muito competentes, em todas as vertentes do conhecimento e das relações humanas.

 

VC – Recuamos até ao princípio do milénio, encontravas-te no Sporting, que projeto foi este à altura e fala-me um pouco das conquistas alcançadas?

 

PC - Eu cheguei ao Sporting, no meu primeiro ano de júnior e cheguei numa altura em que o plantel já estava formado. Treinei à experiência durante algum tempo, mas por vontade do mister Tozé (treinador dos juniores) e do mister Paulo Fernandes (treinador adjunto dos seniores) não teria ficado. Esta história talvez nunca tenha sido contada, mas é a mais pura verdade. Foi a intervenção de duas pessoas, que me permitiram representar o Sporting, o saudoso Sr. Melo Bandeira e o Mister Orlando Duarte. Foram eles que acreditaram no meu potencial e fizeram a força necessária para ficar. Em 6 anos de Sporting, conquistei 2 campeonatos distritais de juniores (não existia campeonato nacional) e 2 campeonatos nacionais de seniores. Foram anos essenciais para a minha formação e afirmação como jogador apesar de na altura ser amador.

 

VC – Depois do Sporting vem o Freixieiro, mas apenas para uma passagem muito fugaz, o que sente um jogador a esta distância, vendo o desaparecimento de clubes com uma carga histórica enorme, tais como o Miramar, Instituto, Académica e neste caso concreto o Freixieiro?

 

PC - A minha passagem pelo Freixieiro foi curta mas muito intensa. Era o meu primeiro ano como profissional e fui com muita ilusão. Na verdade tinha contrato de 3 anos, mas recebi uma proposta irrecusável para representar o Benfica. De qualquer forma nesse ano de Freixieiro, fizemos história com um grupo de trabalho fantástico. Ainda hoje guardo recordações únicas desses tempos maravilhosos e amigos para a vida. Ao ver clubes como o Freixieiro e outros fora das luzes da ribalta, fico triste, pois algumas dessas equipas trabalharam imenso para que o futsal chegasse ao patamar em que hoje se encontra.

 

VC – Chegas ao Benfica, já com títulos conquistados, mas os 8 anos que viveste naquele clube, são uma autêntica consagração ao valor que todos te reconhecemos. Fala-nos destes anos, nomeadamente dos balneários e colegas que tiveste e dos títulos conquistados.

 

PC - Na verdade foram 3, mais 5, pois no meio tive uma passagem por Espanha. Bom mas a pergunta é sobre o Benfica e sobre a minha consagração e quanto a isso tenho de discordar um pouco dessa visão, pois considero a minha época no Freixieiro a da minha consagração como jogador, pois foi sem dúvida a melhor de toda a minha carreira, em termos de prestação desportiva individual. Aquilo que o Benfica me deu e isso é inequívoco foi a projeção a nível nacional. A grandeza do clube, aliado às constantes transmissões televisivas, permitiu que o meu trabalho fosse reconhecido pela grande maioria dos portugueses. Não tenho palavras para descrever e agradecer aquilo que o Benfica fez por mim, conheci pessoas fantásticas e tive a sorte de ter alguns dos melhores jogadores do mundo ao meu lado. Em 8 anos de Benfica, bebi da mística e aprendi a amar o clube. Em 8 anos, ganhámos 5 campeonatos, 4 taças, 4 supertaças e a maior prova de clubes na europa, a UEFA Futsal Cup.

 

VC – Temos de dar natural destaque à UEFA Futsal Cup, sendo a primeira que ficou no nosso país, que emoções foram vividas por vós, é possível descrevê-las?

 

PC - A primeira e única até agora. Essa conquista foi sem dúvida, a cereja no topo do bolo. Foi uma conjugação de fatores que permitiram ter uma super equipa reunida, no maior clube do mundo. Vivemos um momento único nas nossas vidas e nas nossas carreiras e jamais esquecerei o dia 25 de abril de 2010. Foi a nossa revolução! As emoções são impossíveis de descrever, pois trabalhei durante anos para conquistar algo assim. Está tudo gravado na mente e no coração.

 

VC – Na época de 2005/06, tiveste a tua primeira aventura além fronteiras. Conta-nos como se deu esta decisão de sair, e também o porquê de ser apenas uma época, e teres regressado ao Benfica na época seguinte?

 

PC - Como para qualquer jogador da minha geração, a liga espanhola sempre foi uma referência. E sempre tive o sonho e ambição de jogar com e contra os melhores do mundo. E nessa altura, à exceção do Falcão, os melhores estavam praticamente todos lá. O Benfica deixou-me sair a custo zero e eu assinei um contrato de 3 anos com o MRA Gvtarra Navarra. Mas ao fim de 6 meses o Eng. Luís Moreira, estava a ligar-me para regressar a Portugal e no final da época acabei mesmo por voltar ao Glorioso. A pergunta que muitos me colocam é se falhou alguma coisa no Xota? Eu respondo a verdade, não, não falhou nada. Cumpri o meu sonho de jogar na melhor liga do mundo, jogava muitos minutos e era o 4º jogador mais utilizado. Posso dizer que tinha um papel importante na equipa. O problema é que no Xota, lutava para ficar entre os 8 primeiros, ao passo que no Benfica sempre fui habituado a jogar para ganhar.

 

VC – Em 2011, dás o salto em definitivo para fora do país, ingressas no Nagoya do Japão, onde permaneces, e onde voltas a acrescentar mais títulos ao teu currículo, sentes que nasceste para “vencer”?

 

PC - É engraçada essa pergunta e faz-me lembrar um período de 3 épocas consecutivas onde fui campeão sem derrotas (Sporting, Freixieiro e Benfica). Nessa altura faziam-me várias vezes a pergunta: Sentes-te invencível? Sentes que és um talismã? Acho que respondi dezenas de vezes a essas perguntas e em algumas delas caí no erro de dizer que sim que sentia. Perdoem-me a presunção, mas tinha pouco mais de 20 anos na altura e não sabia bem o que dizia. O que sempre tive e espero continuar a ter é uma mentalidade vencedora e a sorte de pertencer a equipas de topo.

 

VC – Fala-nos deste projeto, da tua vida no Japão e já agora dos objetivos, tanto pessoais como do próprio clube.

 

PC - O Nagoya Oceans apareceu numa altura em que não tinha proposta para renovar com o Benfica e nem pensei duas vezes antes de aceitar. Inicialmente vim por 9 meses, mas tem sido tudo tão perfeito, que já estou a começar a minha 5ª época e agora como capitão. Dentro do plano desportivo, tenho como principais objetivos manter a hegemonia do clube na liga de futsal e conquistar uma Ásia Cup. Fora dos pavilhões é continuar adaptado ao país, à sua cultura e às suas tradições. Adoro comida japonesa! Apenas a língua ainda continua a ser uma pequena barreira mas estou a ter aulas para tentar ultrapassar esse obstáculo.

 

VC – Seleção nacional, um tema que te será bastante querido com certeza, em que ano se deu a tua estreia e qual o momento maior que viveste no seio da mesma?

 

PC - A minha estreia na selecção A deu-se em pleno campeonato do mundo na Guatemala no ano 2000. Por azar do Sérgio Júnior que se lesionou, fui chamado à última hora e a estreia foi de sonho. Aliás se tivesse sonhado não seria tão perfeita. Jogo de abertura do campeonato do mundo, contra a seleção anfitriã perante 7500 pessoas e com uma vitória. Indescritível. A medalha de bronze conquistada nesse mundial foi sem dúvida o maior momento nos 10 anos em que representei a nossa seleção.

 

VC – Conhecedor de várias realidades o que pensas do futsal português, da sua evolução e o que preconizas em termos de futuro?

 

PC - Infelizmente já estou há 4 anos fora de Portugal e não tenho neste momento um conhecimento que me permita opinar. De qualquer forma parece-me óbvio, que com o desaparecimento de algumas equipas históricas, a luta pelos títulos se resumiu a duas equipas. O meu desejo é que continuem a aparecer Fundões e Bragas e outros que venham provar que o futsal continua a ser jogado 5 contra 5 e onde qualquer resultado é possível.

 

VC – Que expetativas tens em termos do Europeu do próximos ano?

 

PC - Vou responder o mais sincero possível. Depois de ver a UEFA Futsal Cup e a forma como se apresentaram o João Benedito (infelizmente vai estar um largo período ausente por lesão), Cristiano, André Sousa, João Matos, Pedro Cary, Djô, Miguel Ângelo e Fábio Lima, juntando a estes o ainda lesionado Paulinho, fiquei a pensar que temos uma grande base, onde o Jorge Braz se pode e deve agarrar. Olhando para aquilo que conheço do Benfica, temos 3 opções, com Bebé, Bruno Coelho e o Ré, depois penso no Braga e vejo o Fábio Cecílio, Tiago Brito e o Amílcar com valor também. No Fundão há o Mário Freitas, que é um dos bons jovens valores do nosso futsal e mais dia, menos dia, tem de ser dada também uma oportunidade ao Pany. E ainda faltam os que jogam fora, Arnaldo e Joel? Por aquilo que acompanho das suas carreiras, parecem continuar em excelentes condições técnicas e físicas. Depois temos o matador Cardinal, que desde que chegou a Espanha subiu uns quantos patamares e hoje em dia é dos jogadores mais temidos, e temos o Ricardinho que é só o melhor jogador do mundo. O meu pensamento é simples, se o Sporting se bateu com uma das melhores equipas da história do futsal mundial e se goleou o campeão russo, imaginem essa base de jogadores, aos quais se juntam outros de enorme qualidade. Tenho muita esperança que um lugar de destaque será alcançado. Só precisamos de acreditar que é mesmo possível.

 

VC – Antes de me ir embora e dado que aqui hoje não temos nem cozido à Portuguesa, nem umas sardinhas, que sabores me aconselharias a degustar desta cultura tão diferente da ocidental?

 

PC - Como já estamos numa fase primaveril, aconselhava o sushi, pois é uma comida leve e fresca. Acreditem que é bastante diferente daquele que estão habituados a comer em Portugal.

 

VC – Pedro queremos desejar-te as maiores felicidades, e não podemos terminar sem te lançar o repto de deixares umas palavras a quem nos lê e a quem pratica o futsal em geral.

 

PC - Para todos os vossos cyber leitores e para todos os amantes de futsal em geral deixo um enorme abraço. Para os que praticam futsal, nunca desistam dos vossos sonhos. Trabalhem muito e lutem por aquilo que ambicionam. Oiçam e aprendam com os mais velhos, sem nunca esquecer que também podemos e devemos aprender com os mais jovens. Obrigado a todos e bem hajam. Viva o futsal.

 

Paulo Rosa editor VC Futsal

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