

DESTAK INTERNACIONAL, sexta-feira, 22 de Maio de 2015
DESTAK INTERNACIONAL, hoje com Daniela Ribeiro, uma jovem guarda-redes de futsal, com 26 anos de idade, 1,69 m. de altura e 56 kg de peso. Nasceu em Gondomar, mas vive presentemente em Itália, na cidade de Cagliari (Sardenha) onde representa e joga pela equipa do Sinnai Calcio A5, 1ª divisão do campeonato italiano.
VC – Daniela, desde já o nosso muito obrigado por aceitares fazer esta entrevista e gostaria de te perguntar se tiveste formação em futsal e com que idade começaste a praticar ?
Daniela - Até aos 13 anos joguei pólo-aquático e na mesma idade iniciei a jogar futsal, coincidi um ano os dois desportos, mas ao final de uma temporada, levou-me a optar por apenas um. Sim, tenho formação no futsal, iniciei no Grupo Desportivo de Baguim do Monte, no escalão júnior onde começou a aventura da minha vida, e um ano depois fui para a formação do Guilhabreu, onde alternava entre o escalão júnior e o escalão sénior, a partir daí fiz sempre parte do escalão máximo da modalidade em todas as equipas que passei.
VC – Como reagiram teus pais ao teu gosto pela bola, em vez de bonecas ?
Daniela - Nunca me senti menos mulher por ter escolhido futsal como a minha modalidade, bem pelo contrário. A bola nunca foi alternativa a brinquedos ou a estereótipos pertencentes “às meninas”. Os meus pais foram, e continuam a sê-lo nos dias de hoje, os meus pilares em tudo. A escolha foi minha e não podia pedir mais da parte deles, do que o que tive, foram incansáveis, faziam inclusive esforços para que nada me faltasse, como levar-me a treinar todos os dias em Vila do Conde durante um ano. E não posso de forma alguma esconder a satisfação tremenda que me dão, porque desde o primeiro jogo que tive vivem tão intensamente a modalidade como eu, partilham as alegrias e suportam-me nas tristezas. E as bonecas continuam na minha história, as unhas pintadas fazem parte, os saltos altos acompanham-me inúmeras vezes, a maquilhagem , os vestidos, e tudo o caracteriza a “mulher” continua a fazer parte da minha vida, do meu dia-a-dia, da pessoa que sou. Afinal, sou orgulhosamente uma mulher que joga futsal feminino, e o futsal não me desvia absolutamente nada da feminilidade, bem pelo contrário, recorda-me todos os dias como é extraordinário ser mulher, lutar pelos sonhos, e por fim vivê-los.
VC - Quais os clubes que representaste e épocas?
Daniela – Em 2002/2003 Grupo Desportivo Baguim do Monte 2003/2004 Guilhabreu 2004/2005 A. R. Restauradores Avintenses 2005/2006 A. R. Restauradores Avintenses 2006/2007 A. R. Restauradores Avintenses 2007/2008 E. D. C. Gondomar 2008/2009 A. R. Restauradores Avintenses 2009/2010 A. R. Restauradores Avintenses 2010/2011 A. R. Restauradores Avintenses 2011/2012 Poio Fútbol Sala (Espanha) 2012/2013 Diogo Cão 2013/2014 Sinnai Calcio A5 (Itália) 2014/2015 Sinnai Calcio A5 (Itália).
VC - Como surgiu essa oportunidade de ires para Itália jogar?
Daniela - A certa altura fui contactada por Vincenzo Portelli, empresário da Proneo Sports, que me explicou de forma clara o interesse em levar-me para Itália e fez tudo para que qualquer dúvida que tivesse em relação à “aventura” fosse devidamente esclarecida. Depois de quase meio ano a “trabalhar” o tema optei por sair do país e agarrar a oportunidade. Desde então, tenho como meu empresário Vincenzo, que é uma pessoa fantástica, ajuda-me a cada dificuldade e não permite que nada me falte para o conforto do dia a dia fora do meu país de origem; faz os possíveis e impossíveis pelos seus atletas e eu, pessoalmente, estou eternamente grata.
VC - Como foi a tua adaptação ao país e costumes e se já falas italiano?
Daniela - A minha adaptação foi bastante fácil. Não tenho muitas dificuldades de adaptação e o interesse pela descoberta bem como de novas aprendizagens sempre me fascinou. Desde a minha chegada a Itália, esforcei-me imenso para acompanhar a língua e dessa forma tornou-se muito mais fácil aprender a falar, bem como escrever. Neste momento falo e escrevo fluentemente o italiano, e tanto quanto dizem com a pronuncia Sarda acentuada. Em Itália, como em todos os países acontece, têm pronuncias características e particulares de cada zona e a minha “escola” foi a Sardenha.
VC - Tem outras jogadoras Portuguesas ou de outras nacionalidade na equipa?
Daniela - Sim. Nesta equipa somos duas portuguesas, eu e a nossa compatriota Filipa Mendes, temos também uma argentina (Alejandra Argento) e uma brasileira (Milena Gasparini).
VC - Como é viver longe da família e amigos?
Daniela - Viver longe do nosso conforto não é fácil. Não é de todo fácil encarar o dia a dia, sem o aconchego dos “nossos”, sem a palavra certa dos pais no final de um dia difícil, sem o carinho perto da família e sem as gargalhadas fáceis dos amigos. Sabia de início que seria difícil, mas a vida tem destas escolhas e os caminhos que seguimos levam-nos a optar e envergar pelo que realmente devemos fazer e não pelo que é mais fácil. No entanto, estou a viver um sonho, estou a fazer o que amo, a trabalhar com o maior dos prazeres e na verdade, dá-me um enorme prazer poder valorizar tão intensamente “o beijo” da despedida e o “abraço” da chegada. A escolha que fiz, levou-me a crescer imenso e acima de tudo a valorizar o que realmente importa.
VC - Vives sozinha ou divides apartamento/casa com mais alguma colega de equipa?
Daniela - Divido apartamento com a portuguesa Filipa Mendes. A Filipa veio para Sinnai, para Itália, exatamente no mesmo ano que eu e desde então que nos tornamos cúmplices, amigas e companheiras de casa. É uma pessoa extraordinária, faz parte da minha família sem dúvida alguma. Longe de casa, tudo se torna mais fácil quando encontramos alguém que nos compreende e está ao nosso lado para o que der e vier. Somos o “alicerce” uma da outra e só tenho a agradecer ao futsal a amiga para a vida que ganhei.
VC – Quais os teus objetivos no futsal ?
Daniela - O futsal é, para mim, mais que um desporto, mais que uma modalidade a praticar. Tem-me oferecido tanto, que quase me sinto em dívida com ele! Ao longo destes anos da prática da modalidade tornou-se cada vez mais clara a necessidade que tenho da interação, ligação e vivência pelo futsal. Neste momento desenvolvo uma tese de mestrado no Futsal e é o culminar do prazer de uma atleta poder trabalhar no que a realiza de verdade. No futsal tenho muito para aprender, e assim encaro cada treino, cada jogo, cada vitória, cada derrota. Em tudo o que vivo na modalidade ganho um pedacinho do que procuro, aprendizagens. E como objetivo tenho exatamente isto, não parar de ter esta “fome” de aprender, de pesquisar, de estudar, de perceber e manipular. Trabalhar todos os dias para atingir os melhores resultados, é o objetivo que cada uma de nós que se entrega de corpo e alma ao compromisso. E não tenho qualquer dúvida, que essa vontade de trabalhar e, querer sempre mais, será sempre a base de todos os objetivos possíveis.
VC - Quais os objetivos da tua equipa para esta época?
Daniela - O primeiro grande objetivo da minha equipa, neste momento, é o apuramento para a fase seguinte do campeonato nacional, os playoff’s. Tivemos uma temporada ligeiramente atribulada mas em momento algum baixamos os braços ao compromisso. Pelo contrário, procuramos sempre encontrar a resolução e lutar juntas. De momento, a tabela classificativa permite-nos alcançar o objetivo apresentado e continuamos a trabalhar afincadamente todos os dias para que seja realmente concretizado e da melhor forma possível.
VC - Quem é Daniela Ribeiro fora do futsal?
Daniela - Fora do Futsal (e dentro também) sou uma mulher como todas as outras. Adoro viver e disfrutar da vida, aproveitar as oportunidades que cada novo dia me oferece e vivê-las o mais intensamente possível. Continuo a minha vida académica, porque afinal, o futsal não me impede de absolutamente nada (bem pelo contrário), e estou assim a terminar a minha tese de mestrado com especialização em futsal, arriscaria até dizer que fora do futsal “sou futsal” (quase) a tempo inteiro. Continuo a impor objetivos na vida e a lutar por eles sem me conformar com caminho fácil. Disfruto do mais belo que a vida me dá e faço de tudo para aprender com os erros e com as coisas menos boas. Tudo na vida serve para crescer, aprender e melhorar.
VC - Como passas os teus tempos livres aí em Itália? Quais são os teus hobbies ?
Daniela - Nos tempos livres normalmente trabalho na tese de mestrado que desenvolvo no Mestrado de Ciências de Desporto na UTAD, passeio pelas explêndidas praias que nos rodeiam nesta ilha lindíssima, danço em aulas de grupo, vou ao cinema, assisto a jogos de futsal de outras equipas aqui da ilha, quer masculinas quer femininas, organizamos momentos em equipa, entre inúmeras coisas.
VC - Queres deixar uma mensagem a todas as jovens jogadoras que se estão a iniciar neste momento no futsal?
Daniela - A todas as jovens jogadoras tenho a dizer que a paixão por esta modalidade é incrivelmente fantástica e cresce a par do empenho que todos os dias oferecemos a cada treino e a cada jogo. Não se rendam as adversidades do caminho pois o culminar do prazer está em ultrapassar as dificuldades e no atingir objetivos. Não desistam. Nem provem nada a ninguém. Provem sim, apenas a vocês mesmas, que são sempre capazes de mais e melhor. Estipulam objetivos, lutem, trabalhem e alcancem-nos. Lutem sempre pelos vossos sonhos.
VC - Queres deixar uma mensagem a todos os nossos leitores/ leitoras e amantes do futsal?
Daniela - A todos que partilham esta minha paixão deixo um especial agradecimento. O Futsal continua a crescer e a todos se deve. Não deixem de apoiar as equipas que vos são queridas, não deixem de sentir os golos, as vitórias, as derrotas, mas acima de tudo não deixem de apoiar esta lindíssima modalidade.
José Augusto Garcia editor VC Futsal

