

DESTAK INTERNACIONAL, sexta-feira, 19 de Dezembro de 2014
A VC Futsal está hoje na companhia de um dos melhores jogadores de futsal da actualidade e indiscutivelmente o melhor jogador português. Natural de Valbom ( Gondomar ), tem 29 anos, 1,66 m e joga com o pé esquerdo, falamos de Ricardo Filipe Silva Braga, conhecido no futsal por Ricardinho”.
VC – Ricardo muito obrigado por teres aceite este convite e digo-te para iniciarmos a conversa que o dia 3 de Setembro de 1985 foi com certeza um dia abençoado, consideras-te um homem de fé?
RB – Considero-me sem dúvida um homem com muita fé, crente e acima de tudo batalhador...
VC – Começas a jogar na tua terra, que importância teve para ti esses primeiros anos e em que condições praticavas a modalidade?
RB - Penso que os primeiros passos na modalidade são muito importantes, pois é quando aperfeiçoas a técnica, o saber estar em campo, que mais tarde, se vai completar com a componente táctica...as condições que jogava não eram as melhores do mundo, mas a verdade é que a dedicação de todas as pessoas do clube e a qualidade do plantel sempre ajudou a que conseguíssemos os nossos objetivos...
VC – Depois do Miramar onde começas a jogar como profissional dás o salto para o Benfica que era um projecto de formação recente, passavam nos teus “sonhos” tudo o que viveste a seguir?
RB - Antes de mais, dizer que o Miramar foi sem dúvida, o clube que mais apostou em mim e sempre acreditou que eu seria o que felizmente consegui ser e ambiciono ser no futuro, logo, desde já agradecer aos vários membros do Miramar que me ajudaram a chegar até aqui, e ao meu pai do futsal que foi o José Manuel Matos Leite, o homem que fez com o futsal existisse em Portugal... Voltando à pergunta concretamente, acho que mesmo nos meus melhores sonhos não conseguia prever o que aconteceu, ano após ano no SL BENFICA...
VC – Ricardo, nos anos em que jogaste no Benfica conquistas, 6 ligas portuguesas de futsal, 5 taças de Portugal, 5 supertaças, mas penso que a conquista da UEFA Futsal Cup em 2010 terá tido um sabor especial, fala-nos desta conquista?
RB - Foram sem dúvida, títulos que jamais esquecerei, porque são o culminar de épocas de muito trabalho, dedicação e muitas delas de sofrimento, logo todos eles são espetaculares, mas obviamente que a UEFA Futsal Cup é o ponto mais alto a nível de clubes, uma competição onde normalmente só jogam clubes campeões das suas ligas, vais jogar em ambientes adversos onde as regras UEFA são mais "largas" existe mais confronto físico, futsal com mais contacto onde o objetivo do jogo é que pare o menos possível, jogar contra os melhores jogadores da Europa, é o top para qualquer um, e em 2010, depois de tantos anos andarmos a lutar para conseguir ganhar essa competição, e no dia 25 de abril, dia tão especial para PORTUGAL conseguirmos encher o pavilhão atlântico e ganhar essa competição contra a melhor equipa do mundo, foi um sonho.... Jamais esquecerei.. Nem eu nem os 9800 benfiquistas que encheram aquele pavilhão...
VC- Depois de 7 anos de Benfica prossegues a tua carreira no Japão (Nagoya Oceans), treinado por um treinador que bem conhecias, Adil Amarante. Que importância teve Adil Amarante na tua adaptação a um país e uma cultura tão diferentes, mas onde os resultados surgiram de imediato?
RB - O Adil para mim continua a ser o melhor treinador com quem pude ser treinado, é inteligente, sabe tirar proveito do melhor de cada jogador, sabe ouvir os atletas e ao mesmo tempo comanda o grupo e balneário, tem todas as condições para ser um treinador dos melhores a nível mundial..
Toda a minha ida para o Japão passou pelo Adil, o presidente perguntou por um jogador com característica parecidas com as minhas para ajudar o desenvolvimento do futsal no Japão e aumentar os adeptos da modalidade, e o Adil de imediato falou comigo, foi então que trocamos algumas informações e no ano seguinte estava eu num país fenomenal, com uma cultura impressionante, mas que está mal colocado no mapa, pois tirou-me jogos da seleção (devido às horas de voo, e desgaste que teria em cada concentração) e devido aos constantes terramotos...
Mas foi das melhores experiências da minha carreira...
VC – A nível individual chegas ao “topo”, recebes o prémio de melhor jogador do mundo em 2010, como te sentiste ao pertencer ao quadro de nomes como Manoel Tobias, Kike, Schumacher ou Falcão?
RB - Foi sem dúvida o reconhecimento do trabalho que conseguimos fazer no Benfica nesse mesmo ano, em que conseguimos chegar ao topo do mundo onde todos viram a qualidade que tínhamos e tocou-me a mim ser distinguido, podia ter sido qualquer um dessa equipa fantástica, mas confesso que esperava o prémio anos antes, com o trabalho que vinha a desenvolver com ajuda dos meus companheiro, mas compreendo que no mundo do futsal, os nomes mundiais ainda tenham mais força do que quem às vezes se destaca de verdade, e a nossa liga sejamos sinceros não ajuda... Infelizmente...mas foi sem dúvida um privilégio ser o primeiro português a conseguir esse prêmio e poder levar Portugal tão alto..
VC – A ida para a Rússia por empréstimo onde encontras um ambiente complicado foi um passo atrás na tua carreira ou foi mais uma experiência que te ajudou a crescer mas ainda?
RB -Foi sem dúvida uma má decisão, mas uma experiência fenomenal, aprendi a verdadeira cultura emigrante portuguesa em que cada um olha por si, e que não devemos tomar decisões precipitadas...mas ajudou-me imenso a crescer...
Não me arrependo de nada, só tenho pena do nosso presidente e amigo, ter sofrido tanto com a minha saída, e que o clube se tenha afundado na tabela depois de Dezembro.. Mas trouxe a amizade do presidente e de alguns companheiros de equipa..
VC –No início do ano de 2012 voltas às origens, Portugal e mais propriamente ao Benfica, onde voltas aos títulos e depois novamente ao Japão para terminares em grande com mais uma F. League conquistada, conta-nos o que mais te marcou na “terra do sol nascente”?
RB - A minha vinda ou regresso ao Benfica foi simplesmente para completar o ano de empréstimo que tinha de ser cumprido quando decidi sair da Rússia em Dezembro e como todos sabemos que em Portugal só jogarei no Benfica enquanto assim for vontade de ambas as partes, foi um regresso em grande, onde recuperamos o título de campeão da liga e da taça, não poderia ter sido melhor… Depois no Japão fui novamente o mesmo jogador e pessoa, voltei a treinar-me com o melhor treinador, a treinar bem a alimentar-me bem, a descansar bem a ser um profissional exemplar e consegui despedir-me de uma forma exemplar com todos os títulos conquistados coletivamente e individualmente, não podia pedir mais... Foi aí que senti que estava na hora de experimentar a melhor liga do mundo e provar que queria ser novamente o melhor do mundo e ajudar a melhor equipa do mundo a conquistar títulos, juntamente com um plantel quase perfeito, digo quase perfeito porque a perfeição não existe...
VC – Atualmente estás na LIGA Nacional de Fútbol Sala em Espanha, no clube que muitos consideram o melhor de todos , o Inter Fútbol Sala ou Inter Movistar, até onde sonhas chegar nesta aventura hispânica?
RB -Inter MOVISTAR é sem dúvida a equipa com mais títulos no mundo e a melhor equipa do mundo na minha opinião, e sem dúvida que a minha escolha foi a mais certa, obviamente que todos os clubes têm as suas falhas mas felizmente temos um staff impressionante que trabalha como ninguém sempre.. Queria vir para Espanha e ajudar o Inter a voltar aos títulos, após 5 anos sem ganhar nada e foi isso que aconteceu felizmente, conseguimos trabalhar muito bem, aproveitar as qualidades de cada um ao máximo e no final ganhamos todos, foi um ano inesquecível para mim e para o clube, espero poder ainda conquistar alguns títulos por este clube antes de voltar ao glorioso...
VC – Depois de passagens no Japão, Rússia e agora Espanha em que patamar está a liga portuguesa de futsal?
RB - Infelizmente a liga portuguesa, mesmo com este plano estratégico por parte da FPF não passa bons momentos, equipas com baixos orçamentos e com fraca qualidade, infelizmente para tudo o que rodeia o panorama do futsal em Portugal, espero sinceramente que com o passar do tempo as coisas melhorem, a qualidade dos jogadores suba e quem ganhe com isso seja a nossa seleção...
VC – Sei que tens preocupações com a evolução da modalidade em Portugal, nomeadamente com o desenvolvimento das Academias RICARDINHO pelo país, que mensagem queres deixar a todos quantos praticam o futsal, muitas vezes em condições menos favoráveis?
RB - infelizmente brevemente vou ter de terminar o plano academias Portugal por vários factores, que não queria nomear agora, digo só que é uma pena que mais jogadores ou clubes não vejam este projeto ou maneira de trabalhar viável e que não adaptem nos seus clubes, acredito seriamente que a formação em Portugal estaria assegurada e que os clubes teriam mais ajudas e apoios, mas nem todos pensamos da mesma forma.. Aconselho também a quem trabalha ou tem intenções de trabalhar neste tipo de projetos se rodeie de pessoas que queiram trabalhar e ajudar a que o projeto cresça, e nunca de pessoas que se juntam a ti para atingir outros fins... Devemos todos tentar ajudar o futsal e a formação a crescer...
VC – A nível pessoal tens hoje com certeza uma vida confortável, pergunto-te se és um “homem vaidoso”?
RB - Felizmente sou uma pessoa de bom coração e que ajudo muita gente e várias instituições todos os anos, e mesmo assim continuo a ter uma vida bastante confortável porque trabalho muito e dedico todas as minhas horas de vida ou a maior parte delas para o meu trabalho, logo tenho os benefícios mais à frente... E penso que sou vaidoso quanto baste...
Quando quero algo faço para ter, sou uma pessoa que veio do nada e agora com as condições que tenho não mudei exatamente nada, mas com tudo o que trabalho, acho que mereço dar- me presentes também.
VC – Para terminarmos, quero mais uma vez agradecer-te esta oportunidade que nos concedeste, desejar-te as maiores felicidades pessoais e profissionais e termino com a pergunta quem é o Ricardo Braga quando deixa o Ricardinho na quadra?
RB - Antes de mais, eu é que agradeço a oportunidade de poder dar a conhecer um pouco mais de mim e de poder deixar aqui algumas coisas que poucas pessoas sabiam, e desejo que vocês tenham todo sucesso do mundo, e que ajudem sempre o futsal a crescer...
Quanto a quem é o Ricardo Braga, continuo a ser aquele miúdo, que anda sempre com a bola (neste caso agora sempre no carro), sempre com uns ténis prontos para jogar em qualquer campo seja com quem for que convide, que chora quando perde, que dedica todo o seu tempo aos amigos e à família, que se preocupa com os outros, que busca soluções para uma vida e carreira melhor e que acima de tudo sabe de onde veio, e que valoriza todos os atos e atitudes dos demais, e que ama este desporto...humilde e com um sorriso sempre na cara....
Quero ainda desejar um FELIZ NATAL a todos os que amam a nossa modalidade, que possam passar esteve momento feliz e com as vossas famílias...
Paulo Rosa editor VC Futsal

