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DESTAK INTERNACIONAL, sexta-feira, 16 de Janeiro de 2015

DESTAK INTERNACIONAL veio até terras distantes, viemos a um emirado árabe soberano, situado no nordeste da península Arábica na Ásia Ocidental. Faz fronteira com a Arábia Saudita ao sul e ao norte com o Iraque. Encontramo-nos no Kuwait, na costa noroeste do Golfo Pérsico. Dirão vocês, quem procurará nestas paragens a VC FUTSAL, pois bem o nosso entrevistado é natural de Boticas, tem 28 anos, joga a ala/fixo com o pé direito e depois de uma carreira em Portugal aventurou-se pelas paragens dos Emirados, falamos de Davide Moura.

VC – Davide agradecemos-te a amabilidade de nos receberes e pergunto-te por onde começaste tu no mundo da “bola”?

DM - Olá a todos, em primeiro lugar deixar o meu agradecimento à VC FUTSAL por esta oportunidade e também pelo trabalho que tem feito em prol do futsal com o desenvolvimento de um projecto que ajudará a crescer sem duvida a “nossa modalidade”! Pois bem, os meus primeiros passos como atleta foram dados na categoria de iniciados no G.D.Boticas onde comecei a jogar futebol. Aos 15 anos de idade, recebi o convite do então treinador de Futsal do Boticas, Antonio Marinho, para “treinar” na equipa sénior que disputava o campeonato Distrital de futsal da AF Vila Real. Estavamos no inicio da época 2001/02.

VC – Sendo o Davide Moura um produto do interior do país, consideras que a “interioridade” trouxe algumas dificuldades ao desenvolvimento da tua carreira?

DM - Nós podemos sempre dizer que ser do interior pode causar dificuldades a um atleta que quer começar uma carreira, no meu caso que na altura estava a iniciar os estudos no ensino secundário, projectar uma carreira profissional nem sequer me passava pela cabeça. O facto de ser de um lugar onde a aposta no futsal era mínima, isso sim era um entrave, no G.D.Boticas não havia formação e desde logo , 15 anos apenas, treinava e competia no escalão sénior. A minha formação foi feita a competir, nesse ano no distrital de Vila Real e no ano seguinte na 3ª Divisão Nacional. Na época 2005/06 conseguimos subir à 2ª Divisão Nacional, e em Janeiro de 2007 fui para o S.C.Braga que estava na 1ª Divisão. Aí sim, realmente vivi e senti na pele o facto de ter saltado etapas na minha formação e de ter competido demasiado tempo em divisões menos ricas a nível técnico/tactico. Foram varios meses dificieis a nível pessoal e desportivo, era a 1ª vez que saía de casa e depois com a descida de divisão do clube.

VC – Conta-nos como se dá a tua passagem pelo futsal espanhol, nas 2 épocas que passaste pelo Ourense FS?

DM - No S.C.Braga as coisas não correram muito bem, apesar de termos disputado a final da Taça de Portugal conta o Benfica, o principal objectivo do clube que era a manutenção não foi alcançado, desde logo houve mudanças na equipa e no clube. Eu saí e surgiu a oportunidade de ir para Espanha, disputar a 2ª Divisão (Division de Plata) pelo Ourense Futbol Sala, que era um clube totalmente profissional. Posso dizer que foram os dois anos que mais mudaram o Davide enquanto atleta. Cheguei a Espanha a jogar como pivôt e saí a jogar como ala/fixo. Quando estava em Braga o Pli (G.Redes) disse-me uma vez que para jogar futsal o principal era defender bem, isso ficou guardado para mim e quando chego a Espanha percebo isso mesmo, praticamente todo o jogo se baseava numa boa defesa e aos poucos fui-me adaptando e tornei-me um jogador um pouco mais defensivo. Nesses dois anos melhorei bastante a nivel individual e colectivo, melhorei bastante na leitura de jogo e inteligência a jogar.

VC – Dois anos no Boticas antes de ingressares no Fundão, foram anos de afirmação antes de chegares ao topo do futsal português?

DM - Quando chego ao Boticas novamente, agora na 1ª Divisão, vejo o realizar de um sonho, não apenas meu, mas de um pequeno “concelho” que acreditou e apostou muito no futsal. Agora via e representava “o meu Boticas” na 1ª Divisão. É verdade que não havia no plantel tantos jogadores da terra como pretendido, mas eu era um e isso significava sentir a camisola com outra responsabilidade. Foram dois anos em que desportivamente o clube cumpriu os seus objectivos, por duas vezes acabamos a fase regular em 7º lugar e consequentemente garantimos a manutenção na 1ª divisão, tendo no primeiro ano atingido as meias-finais da Taça de Portugal. Também enquanto jogador do Boticas consegui a minha 1ª Internacionalização A, na época 2010/11 em jogo amigavel contra a seleção do Japão.

VC – Chegas ao Fundão onde jogas três épocas, pelo que conheces do futsal português achas que chegaste a um dos “grandes” do futsal nacional?

DM - Quando chego ao Fundão a fasquia no clube estava bastante alta, pois na época anterior por muito pouco falharam a presença na final do campeonato, tendo sido eliminados no jogo 3 contra o Sporting. É verdade que a primeira época não foi nada de extraordinário, acabamos em 8º lugar na fase regular e fomos eliminados logo no primeiro jogo da taça. Nos dois anos seguintes tudo foi diferente, primeiro conseguimos novamente chegar às meias-finais do play-off e quartos-final na Taça. Com a continuidade do bom trabalho no 3º ano, vencemos a Taça de Portugal e disputamos a final do campeonato, conseguimos feitos inéditos e históricos não só para o clube mas tambem para toda uma região. Sabemos todos o que significa ser um dos “grandes”, há coisas que neste caso, só Benfica e Sporting podem ter, no entanto, da forma como todo o clube tem trabalhado nos últimos anos, posso dizer que o Fundão neste capítulo, não fica a dever nada a esses dois clubes.

VC – E o Kuwait como surge? Quais os objetivos do Kazma Sporting Clube e os teus a nível individual?

DM - Dia 22 de Setembro o telemóvel tocou, do outro lado uma proposta “irrecusável” e dia 1 de Outubro estava no Kuwait. Aconteceu tudo muito rápido, de pronto informei os responsáveis do Fundão daquilo que estava acontecer. Tenho que louvar e enaltecer a direção da Desportiva, pois sabendo da minha importância no plantel e que seria uma baixa importante para a equipa, não colocaram nenhum entrave à minha saída. Aqui no Kuwait a liga de futsal conta apenas com seis épocas, o Kazma é um dos maiores clubes e o facto de nunca ter conseguido vencer nenhum titulo faz com que o principal objectivo seja esse mesmo, ganhar a Taça ou Campeonato ou ambos se possível. A nível pessoal, espero ajudar o clube a atingir esses mesmos objectivos, continuar a aprender todos os dias, a crescer como pessoa e atleta. 

VC – Com experiências fora do país e naturalmente atento ao que se passa à tua volta, como classificas o estado actual do futsal português?

DM - Quando queremos que um produto seja de qualidade mundial, temos que investir nesse mesmo produto. Neste caso, investir e tomar medidas para se formarem jogadores, treinadores e dirigentes de qualidade. Claro está que isso tem os seus custos e se continuar a haver desinvestimento será mais difícil para todos crescer, no entanto, se seguirmos os exemplos de Fundão e Braga que conseguem ser organizados, rigorosos e competentes , as dificuldades para os “grandes” em vencer serão muito maiores, logo a probabilidade de haver surpresas aumenta. A mentalidade de todos os intervenientes tambem terá que mudar, pois custa-me imenso ouvir em entrevistas jogadores e treinadores a dizer que Benfica e Sporting “não são do nosso campeonato”, então são de qual campeonato? Há sempre margem para crescer e melhorar e é isso que eu quero que aconteça com o futsal português, temos uma liga que pode ser ainda mais forte e depois conseguir passar isso para a nossa seleção e podermos ser ainda melhores a nível internacional.

VC – Todos temos as nossas referências, qual o jogador e o treinador que mais te marcaram nesta tua carreira de jogador?

DM - São já 13 as épocas que levo a jogar futsal, a maior referência no futsal pra mim sempre foi o brasileiro Schumacher, apesar de não o conhecer nem nunca ter jogado com ele/contra, foi aquele jogador que eu sería, se o pudesse ser. Quanto aos treinadores que já tive e que foram muitos, tenho que realçar o primeiro, Antonio Marinho por ter sido ele a levar-me para o futsal e depois o Joel Rocha que foi aquele com quem conquistei o meu primeiro e único grande título nacional, Taça de Portugal. No entanto, como se custuma dizer “ o caminho faz-se caminhando” tenho que agradecer a todos os treinadores e jogadores, sem excepção, com quem trabalhei pelos fantásticos momentos que vivi, que certamente continuarei a viver e que tanto me fizeram crescer como atleta e pessoa.

VC – Davide com tantos anos de futsal terás alguma história curiosa que queiras partilhar connosco?

DM - A verdade é que historias não faltariam para contar, todas juntas poderia escrever um livro e que livro. Pois bem, quando comecei a jogar futsal com 15 anos no G.D.Boticas eu era ainda juvenil de 1º ano e como tal não podia competir nos séniores sem a devida autorização médica desportiva, pois não é permitida a subida de dois escalões sem tal autorização médica. A pré-época começou em Setembro e o clube não tinha condições para naquela altura pagar o tal exame médico desportivo, necessário para eu jogar. No plantel havia algumas “raposas velhas” que tinham trocado o futebol pelo futsal e que fizeram “questão” de me atormentar em todos os treinos, (todos mas em todos mesmo) na hora de chegar ao balneário no final do treino a minha roupa desaparecia sempre. Um dia calças, outro t´shirt, meias, sapatilhas, camisolas, etc … É que nem adiantava queixar-me ou reclamar, no final de cada treino lá andava eu à procura de alguma peça de roupa. Quando finalmente, em Fevereiro, fiz o dito exame desportivo e fui inscrito, logo no primeiro jogo para o qual fui convocado estavamos empatados a 5 golos e faltavam dois minutos para o final, e o treinador mandou o Davide pra dentro do campo e a verdade é que acabamos por vencer o jogo por 7-5, com estes últimos dois golos a passes meus, que foram decisivos na subida de divisão e fizeram terminar o longo período de brincadeira por parte dos meus colegas.

VC – Obrigado pela oportunidade e deixo-te o desafio de deixares votos para 2015 para a comunidade do futsal.

DM - Eu é que agradeço esta oportunidade de poder partilhar um pouco da minha vida desportiva e profissional com todos os leitores da VC FUTSAL. Aproveito também para desejar a todos um bom ano de 2015, tanto a nível desportivo como particular e que nunca desistam de lutar todos os dias por melhores dias.

Paulo Rosa editor VC FUTSAL

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