

DESTAK INTERNACIONAL, sexta-feira. 6 de Março de 2015
Estamos em Thiene, uma comuna italiana da região de Veneto, província de Vicenza, com cerca de 20 mil habitantes, para encontrar e entrevistar DÉBORA QUEIROZ. Nasceu em Almada, vive atualmente na cidade acima referida, tem 19 anos de idade, 1,62m de altura, 59kg e joga como ala/pivot no Thienese C5, clube que disputa a Série A (Girone A).
VC - Desde já o nosso muito obrigado, por teres aceite este nosso pedido de entrevista e começo por te perguntar, como nasceu esse teu gosto pela bola e futsal ?
Débora - Desde sempre via o meu irmão mais velho jogar à bola, em casa via os jogos com a minha família e também jogava à bola na praia com meu pai, o futebol sempre esteve presente na minha vida. Comecei a jogar à bola com rapazes numa academia do Sporting de futebol de 7, quando celebrei 13 anos, tive de procurar uma equipa feminina para jogar, pois não podia jogar com rapazes. Com 14 anos, aceitei o convite que algumas colegas de escola me fizeram, para representar o CRD Miratejo, clube onde joguei até aos meus 17 anos.
VC - Sabemos que representaste o Sporting antes de ir para Itália, queres contar-nos como foi essa tua passagem por esse clube ?
Débora - Na época seguinte a ter feito os meus 17 anos, o Sporting abriu captações para a primeira equipa de futsal feminina no clube. Decidi arriscar e fui realizar o treino, no final do mesmo, surgiu o convite para representar o Sporting Clube de Portugal e mais tarde tive o prazer de ser a capitã de equipa de juniores e representar a equipa sénior onde fomos campeãs distritais.
VC - Estando tu num clube com grande prestígio no futsal nacional, tanto a nível masculino como feminino, porquê essa mudança para Itália?
Débora - Confesso ter sido uma decisão complicada, devido ao fato de consequentemente ter de ficar longe da minha família. No entanto, a compreensão e apoio que desde sempre a família me transmite, transforma-se na minha força interior, ou seja, são eles que me fazem ser ambiciosa e querer realizar os meus objetivos.
VC - Conta nos então, como surgiu o convite para jogar no Thienese C5?
Débora - Estava quase a iniciar a pré-época no Sporting quando surgiu o interesse por parte do Thienese C5. Iniciaram-se conversações com o conhecimento do Sporting, para saber se era possível um acordo para a minha transferência para Itália. Havíamos acabado a época no Sporting, com os objetivos todos cumpridos e já pensávamos no futuro, em novas metas, assim como novos métodos de jogo. Apesar de estar extremamente feliz no Sporting, ser o clube do meu coração, ter todo o apoio do staff técnico, e ter a amizade das minhas companheiras, decidi que não podia deixar fugir a oportunidade de jogar no estrangeiro, melhor dizendo na Série A da liga Italiana e, de ter uma experiência diferente daquilo a que estava habituada. Na verdade quando soube do interesse do clube Italiano, eu estava com muitas dúvidas, se seria a melhor opção no meio de tantas outras. Foi preponderante a minha família, que me apoiou e incentivou a viver esta experiência, pois não se reflete só no futsal ou no jogar à bola. Depois de informar o diretor, staff e as minhas companheiras, da minha decisão, foi a vez de dar a minha resposta afirmativa ao clube Italiano, foi desta forma que integrei então o Thienese C5 com 19 anos de idade, nesta presente época de 2014/15.
VC – Fala-nos da tua nova experiência e de como foste recebida no seio da equipa ?
Débora - Esta experiência está a resultar num crescimento e aprendizagem de valores, que no meio de todo este encanto ainda continua a ser um sonho. É isto que a minha família dá mais importância, saberem que estou a crescer como pessoa. Vivo com uma colega portuguesa, que é minha companheira de equipa, que muito me ajudou na minha adaptação, que na verdade foi muito rápida, e também contei com o apoio do presidente, staff e das minhas companheiras. Todos se mostraram muito acolhedores e empenhados em fazerem sentir-me bem, inclusive ao disponibilizarem-se para que eu conhecesse os lugares mais simbólicos de Itália e ensinarem-me os costumes. Conseguiram ainda fazer com que o espaço mais vazio em mim, que era a falta da minha família, fosse de certa forma colmatado, com o simples fato de me acolherem de forma excelente. Foi com todos estes pormenores, que me cativaram e posso dizer que todos eles são a minha segunda família.
VC - Quais são os teus principais objetivos no futsal ?
Débora - Pessoalmente tenho sempre o objetivo de aprender e evoluir o máximo que puder, ajudando a equipa a cumprir os seus objetivos. Neste momento, posso dizer que concretizei um dos meus sonhos, que era ter esta oportunidade de jogar fora do meu país e estou concentrada em aproveitar a experiência e melhorar com a mesma, sem pensar agora no futuro. Confesso ter um sonho e um objetivo que é representar a seleção nacional, mas não é nada que me deixe obcecada ou que não me deixe dormir. Trabalho todos os dias para ser cada vez melhor e para conseguir ajudar a equipa, é nisto que neste momento me foco.
VC - Quais os objetivos da tua equipa ?
Débora - Estamos neste momento em 7º lugar da Série A - Girone A. Temos como objetivo ir aos playoffs ( vão as cinco equipas primeiras classificadas juntamente com a melhor 6ª de todas as zonas) e consequentemente, no próximo ano, fazer parte da nova série que se vai criar, a série Elite.
VC – E como foi relativamente à língua e comida ?
Débora - De início foi um pouco complicado, porque não tinha bases nenhumas de italiano, mas com o passar do tempo fui aprendendo e as minhas colegas ajudaram bastante, para que eu hoje já consiga expressar e falar tranquilamente italiano. Relativamente à comida, a mudança não foi tão grande como esperava, porque em casa faço uma alimentação mais idêntica à que fazia em Portugal, exceto quando como fora ou a alimentação em dias de jogo.
VC - Quais os conselhos que darias a todas as jogadores que desejam atuar fora de Portugal ?
Débora - O meu conselho é que respeitem e dignifiquem sempre o clube que representam, apoiem e sejam amigas das vossas companheiras, porque sem uma união de grupo não se alcança meta nenhuma. É preciso que se foquem nos objetivos coletivos e que ao mesmo tempo trabalhem humildemente, para realizarem os vossos sonhos e metas, fazendo sempre por ultrapassar o vosso limite, terem sempre espírito de sacrifício, porque coisas fáceis é para toda a gente. Partilho sempre uma das frases com que mais me identifico, foi-me dita pelo meu irmão e para mim faz todo o sentido: “trabalha sempre porque mais perigoso que um talento, é um talento trabalhador” ( Gerson Queiroz).
VC - Queres deixar algumas palavras para todos os leitores da VC Futsal?
Débora - Agradeço a oportunidade de partilhar com todos, um pouco da minha experiência no estrangeiro. É de louvar o trabalho que tem sido feito para que o futsal ultrapasse fronteiras, ajudam a demonstrar que cada vez mais, esta modalidade merece toda a atenção e em sintonia com os seguidores e apaixonados do futsal, continuaremos a chegar cada vez mais longe.
Obrigada !
José Augusto Garcia editor da VC Futsal

