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DESTAK, terça-feira, 9 de Dezembro de 2014

 

Viemos hoje até ao Fundão ao encontro do nosso entrevistado. É docente do departamento de Ciências do Desporto da Universidade da Beira Interior, e investigador do CIDESD (Centro de Investigação em Ciências do Desporto, Saúde e Desenvolvimento Humano) do qual é membro efetivo e coordenador do Pólo existente na Universidade da Beira Interior. Investiga e publica sobre matérias relacionadas com a análise de jogo e tomada de decisão no futsal e futebol, e assumiu recentemente o comando técnico da AD Fundão. Falamos naturalmente de Bruno Travassos, 33 anos, natural de Carapinheira, concelho de Montemor-o-Velho.

 

VC – Bruno desde já o nosso obrigado por teres aceite o nosso desafio e inicio a entrevista perguntando-te se assumires este compromisso com Associação Desportiva do Fundão já com a época a decorrer era algo que te passasse pela cabeça?

 

BT - Obrigado pelo convite para a realização da entrevista. De uma forma muito concreta, todo o treinador espera uma oportunidade para treinar ao mais alto nível como é o caso da equipa da ADF. No entanto, uma vez que a oportunidade não tinha surgido no início da época, não pensava e, sobretudo, não esperava treinar a equipa do Fundão esta época pois era sinal que, caso isso acontecesse, algo estaria mal com a equipa. Tenho imensos projetos em curso em termos de lecionação e investigação e como tal estava focado na sua concretização, como continuo. Acabei por receber o convite numa altura de grande atividade cientifica em que tinha vários congressos internacionais agendados e com os quais tive de conciliar esta nova atividade. No entanto, fruto da confiança que a comissão de gestão demonstrou, face ao apoio que senti por parte da restante equipa técnica (Dário Gaspar e Jota) que têm sido inexcedíveis, e face à abertura da UBI para possibilitar esta colaboração, aceitei este desafio.

 

VC – Depois da melhor época de sempre da AD Fundão (taça de Portugal e 2º lugar na liga) a “fasquia ficou demasiado elevada”?

 

BT - A fasquia ficou elevada em termos de expetativa, é verdade. A ADF é a seguir ao Sporting e Benfica uma das equipas com mais responsabilidades neste campeonato. No entanto, assumindo essa responsabilidade e querendo estar sempre entre os melhores, é necessário percebermos que se fechou um ciclo com algumas mudanças na equipa técnica e na equipa. Neste momento, a nossa fasquia será sempre ganhar jogo a jogo, propiciando bons espetáculos de futsal onde todos os jogadores estejam focados no projeto coletivo de modo a honrar e engrandecer cada vez mais a imagem da região. Se assim for consideramos que estaremos mais próximos de vencer dentro e fora do campo.

 

VC – Quais os objetivos para a restante época em curso?

 

BT - Os objetivos estão definidos desde o início da época. Alcançar os play-off e procurar chegar o mais longe possível no campeonato e na taça alcançar a final-four.

 

VC – O facto de em termos universitários desenvolveres matérias relacionadas com o rendimento desportivo é uma vantagem que poderás aplicar? E quanto ao nível técnico, que outros projetos tens conduzido na orientação de equipas?

 

BT - A minha intervenção procura sempre a aplicação de conhecimento científico na construção dos exercícios de treino e no modo como procuro potenciar os comportamentos coletivos e decisionais da equipa em função do adversário. Para além disso temos procurado também perceber como é que podemos controlar melhor o treino e conseguir alcançar maior transferência entre os exercícios que construímos e o jogo que vamos ter no fim-de-semana a seguir. Estes são também as minhas preocupações em termos científicos e como tal procuro olhar sempre para o jogo e treino de diferentes perspetivas de modo a melhorar a minha intervenção. No entanto, o tempo da investigação é diferente do tempo do treino, quer pela falta de recursos de mensuração e análise no treino, quer pela morosidade nos processos de mensuração, não possibilitando ter respostas imediatas em termos de investigação que nos permitam intervir rapidamente. Apesar desta diferença, é para mim bastante claro que o conhecimento produzido me tem sido bastante útil e tem sido uma grande contribuição para a minha intervenção. Em termos técnicos, fui durante vários anos selecionador distrital da Associação de Futebol de Castelo Branco, fui responsável pela equipa de futsal da Associação Académica da UBI que participou nos campeonatos universitários nos últimos 2 anos e à cerca de 4 anos que colaboro com a academia de futsal AAUBI hoje GDM/AAUBI na Covilhã. Esta colaboração permite sobretudo a ligação entre universidade e clube possibilitando que os nossos alunos de licenciatura realizem o seu estágio nesta academia, com um contacto muito direto com a intervenção nos escalões de formação, permitindo-lhes o acesso direto ao GRAU I de treinador. A UBI é neste momento a única instituição de ensino superior que vê reconhecida a sua licenciatura ao GRAU I de Treinador de Futsal, sendo esta parceria um dos seus pilares.

 

VC – Numa região do interior onde tudo, por vezes, se torna mais difícil, como definirias em traços gerais o estado do futsal na beira interior, desde a formação até à passagem desses jogadores aos plantéis seniores?

 

BT - Considero que se tem verificado uma evolução positiva no futsal no distrito de Castelo Branco desde os escalões de formação até aos seniores. Nos escalões de formação têm surgido alguns projetos interessantes que permitiram o surgimento de prática aos mais jovens, mas também trouxeram uma nova dinâmica de competitividade aos escalões de formação que me parece muito positiva, desde que não seja ultrapassada pelo lema “ganhar a todo custo”, como por vezes se verifica. No entanto, ainda muito existe para fazer sobretudo ao nível da melhoria das condições estruturais dos clubes que permitam que estes projetos se tornem sólidos e permitam a existência de continuidade no processo de formação para o futuro. Já em termos de transição dos jogadores da formação para os planteis seniores, verifica-se uma grande diferença em termos de competitividade, qualidade e volume de trabalho entre os escalões de juniores A e B (escalões de especialização fundamentais para a transição) e o escalão de seniores, nomeadamente quando falamos de equipas de 2ª e 1ª divisão. Infelizmente não temos até ao momento nenhum clube a disputar o campeonato nacional de juniores A, mas espero que num futuro próximo seja possível de modo a que os melhores jogadores compitam num campeonato mais exigente, obrigando-os a desenvolverem as suas capacidades. Para além deste aspeto é fundamental que as equipas do distrito que se encontram a disputar os campeonatos nacionais de 2ª divisão (Boa Esperança e UD Cariense) se mantenham nesses campeonatos e continuem também elas a investir na formação de modo a criar uma dinâmica social que ajude a promover a modalidade, fator fndamental na minha perspetiva para o fomento pelo gosto da modalidade nos mais jovens.

 

VC – E o panorama nacional, que visão tens do estado de evolução do futsal português?

 

BT - Considero que está no caminho certo com bastantes medidas a serem implantadas nos últimos anos. É necessário agora que os projetos se concretizem e que se continue numa perspetiva evolutiva a melhorar as condições estruturais da modalidade. Considero ainda que os clubes são o fator estrutural de desenvolvimento e são eles que têm que criar as condições para que as melhorias ocorram e não o inverso. Se repararmos, apesar do surgimento do campeonato nacional feminino e dos apoios existentes, houve clubes que desistiram dessa competição no início da época. É fundamental uma adaptação à nova realidade social e competitiva da modalidade tendo por base as condições que vão sendo criadas pela FPF de modo a preparar o futuro. Caso contrário o esforços realizados valerão de muito pouco.

 

VC – Naturalmente a docência e a investigação serão uma das tuas paixões, admitirias a hipótese de deixá-las para trás caso surgisse um projeto “maior” na área do futsal?

 

BT - Essa não é uma preocupação que tenha. Gosto muito do que faço e contínuo com bastantes projetos, como referi anteriormente em termos de investigação e lecionação na Universidade da Beira Interior e no Centro de investigação ao qual pertenço (CIDESD). Gosto de viver o dia-a-dia sem a preocupação do que irá acontecer no futuro. Tenho a ambição de fazer sempre melhor e de poder contribuir para o desenvolvimento da modalidade. Seja no treino, seja na investigação, ou em ambas em simultâneo irei procurar sempre ajudar na qualificação da modalidade e contribuir dentro das minhas possibilidades para a sua evolução. Isso é o mais importante.

 

VC – Para terminar, pergunto-te se gostas mais de uma “espiga doce” em Montemor-o-Velho ou de umas “cerejas” no Fundão?

 

BT - Entre espigas doces, pastéis de Tentúgal, cerejas, castanhas ou queijo da serra da estrela não consigo escolher. Será que pode ser um de cada? Para além da prova da doçaria conventual, da enguia ou da lampreia, no caso do concelho de Montemor-o-Velho, ou da saborosa fruta, doces, castanhas, enchidos ou queijos provenientes do Fundão e de toda a região da Cova-da-Beira, são ambas regiões fantásticas para se visitar e para nos perdermos no encanto das suas paisagens e recantos naturais. Recomendo vivamente!

 

VC – Votos de muitos sucessos desportivos e pessoais.

 

BT – Obrigado e boa sorte ao vosso projeto.

 

 

Paulo Rosa editor VC Futsal

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