DESTAK INTERNACIONAL, sexta-feira, 9 de Janeiro de 2015
DESTAK INTERNACIONAL, com César António Torralvo Ribeiro, natural de Barcelos, mas com residência no Porto. Tem 24 anos, 63 quilos e 1,68m de altura e joga como Ala no Bela Nantes em França.
VC - Onde fizeste a tua formação em futsal e quais os clubes ?
CR - A minha formação no futsal foi um pouco complicada, devido à situação dos meus pais, principalmente da minha mãe, pois ela trabalhava num circo.
VC - Queres contar nos um pouco dessa tua vida circense ?
CR - Eu "nasci" num circo, os meus pais trabalhavam lá, mas separaram se quando eu tinha 4 anos, ficando eu e minha irmã a viver com a minha mãe no circo.
VC - Representaste alguma vez nesses espetáculos ?
CR - Desde pequenino que sempre fazia alguns trabalhos no circo. Como o meu pai trabalha no circo e é palhaço, sempre me pintou a cara e fazia me entrar com ele, pois o público achava muita graça verem um menino tão pequenino na pista pintado de palhaço. Depois da separação dos meus pais fazia algumas entradas sempre pintado de palhaço.
VC - Não frequentavas a escola ?
CR - No meu primeiro ano andei em 19 escolas diferentes, a sorte foi que o circo esteve uns meses parado, não fosse isso e teria andado em mais. Nos anos seguintes e nos últimos dois meses de escola ia sempre para casa dos meus avós ou dos meus tios para poder fazer os exames. Quando entrei para o quinto ano, a escola tornou se um assunto mais sério e a minha mãe apesar de todas as nossas dificuldades sempre quis um futuro melhor para mim, com mais estudos. Em vez de ficar só dois meses em casa de familiares, comecei a ficar o ano inteiro, o que me custava muito por sentir a falta de minha mãe.
VC - Depois de todas essas mudanças constantes de cidades e locais, conseguiste acabar a escola ? Que habilitações literárias tens ?
CR - Tenho o 12º ano e um curso de restauração (restaurante/bar). Fiz o 12º, porque a minha mãe deixou o circo, a ideia era fazer somente o 9º ano e voltar para junto da minha mãe, só que ela entretanto deixou o circo para eu estudar e estarmos todo o ano juntos. Foi precisamente quando eu tinha 15 anos. Ela largou o seu "mundo", o seu emprego para que eu pudesse terminar a escola. Dou muito valor e apreço à minha mãe pois não é fácil andar sempre com a "casa às costas" principalmente para uma mulher sozinha.
VC - Quando tua mãe abandonou o circo para onde foste viver ?
CR - A minha mãe quando deixou o circo parou a caravana e a carrinha no bairro do Outeiro e pediu uma casa à Câmara do Porto. No tempo de espera pela resposta da câmara, alguns dos vizinhos que moravam num bloco de apartamentos fizeram queixa à polícia, eles foram lá e rebocaram a caravana. Foram momentos muito difíceis pois não tínhamos para onde ir. A minha mãe já tinha arranjado emprego como empregada de limpeza, eu, já tinha começado o curso e minha irmã, estava matriculada na escola. Valeu nos uma senhora de nome Beta que nos disse que podíamos ficar lá em casa até a câmara nos dar casa. Durante ano e meio dormi no chão e dividi o quarto com o filho dessa senhora. Finalmente a Câmara deu nos uma casa, não no Outeiro, mas sim no Bairro do Pasteleiro, onde a minha mãe vive presentemente. Apesar de todas a nossas dificuldades, a minha mãe, nunca nos deixou faltar nada. Ela é uma mulher de coragem e tenho muito orgulho dela.
VC - Conta nos agora com se deu a tua iniciação no futsal ?
CR - Quando vivi no Outeiro e com 15 anos fui treinar no clube da terra, sem ter a mínima noção do que era o futsal. Passados que foram dois anos, de muitos treinos e jogos e já com 17 anos fui campeão da 3ª Divisão Distrital. Mais tarde fui para o Salgueiros futsal (2ª distrital) e em 2011 fui para o Viseu futsal (2ª nacional) e por fim Freixieiro (1º Divisão Nacional).
VC - Como se deu a saída do Freixeiro e quais os outros clubes que representaste ?
CR - Estive somente 2 meses no Freixieiro e saí devido a ordenados em atraso e aí fui obrigado a procurar novos rumos. Felizmente tive uma grande ajuda do meu "Padrinho" do futsal, o Paulo Ferreira devido à sua grande experiência em jogar fora de Portugal. Surgiu uma proposta do Mister Paulo Barroso para ir jogar no LYON FOOTZIK Futsal (1ª divisão Nacional). Aceitei o convite e depois de um ano conseguimos atingir os nossos objetivos ao chegar às meias finais da Taça. Acabei contrato e tive logo de seguida uma proposta para a República Checa (FC BALTICFLORA TEPLICE Futsal), onde fizemos uma época brilhante faltando somente ter conquistado o campeonato pois perdemos na final. Novo convite surgiu desta vez em França, para o vice campeão Francês CANNES Futsal. Após alguns treinos e a um dia de começar o campeonato o clube fechou as portas à modalidade, por problemas financeiros. Como muitos clubes já tinham os plantéis fechados, assinei pelo BELA NANTES Futsal onde presentemente me encontro.
VC - Pensas regressar ao teu País para jogar futsal ? E planos para o futuro tens ?
CR - Gostava de regressar a Portugal, mas com a crise tem poucos clubes que pagam e com isso não tenho outra alternativa senão jogar no estrangeiro. Os meus planos são tentar ser profissional até onde puder, depois tentar arranjar uma equipa que me dê trabalho para poder ter estabilidade na minha vida.
VC - Queres deixar alguma mensagem ?
CR - Quero sim. Agradecer à VC FUtsal por esta oportunidade de falar de mim e sobretudo dar a conhecer me ao mundo do Futsal. Não queria também perder esta oportunidade de agradecer à minha mãe por tudo o que fez por mim, agradecer ao bairro do Outeiro que me lançou e com isso muitas "portas" se abriram para jogar futsal. Para finalizar um agradecimento muito especial ao meu Padrinho no futsal, o PAULO FERREIRA que sempre me aconselhou e ajudou da melhor forma possível.
Uma história de vida de um jovem que sempre lutou e continua a lutar por uma vida melhor. Uma história de vida impressionante que nos leva a pensar quantos mais jovens haverá neste momento a atravessar momentos difíceis como ele nos contou. Desejamos ao César Ribeiro muita sorte e que consiga atingir todos os seus objetivos
José Augusto Garcia editor da VC FUTSAL
